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Em meio a tensão com Israel, premiê turco anuncia visita oficial ao Egito

Giro de Recep Tayyip Erdogan inclui Tunísia e Líbia e pretende ampliar relação estratégica da Turquia com países árabes que passaram por revoltas populares; viagem pode incluir passagem por Gaza, o que ampliaria crise com israelenses

Atualização:

ANCARAO gabinete do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, informou ontem que ele fará um giro por Egito, Tunísia e Líbia a partir de segunda-feira. A viagem é uma tentativa de aumentar o papel da Turquia na região convulsionada por revoltas populares. No Cairo, Erdogan deve firmar pactos militares e comerciais com o governo egípcio - uma semana depois de romper acordos de defesa com Israel. Será a primeira visita de um líder turco ao Egito em 15 anos. O ditador Hosni Mubarak, derrubado em fevereiro, via a Turquia com desconfiança e sempre rejeitos os gestos de aproximação de Ancara. O novo governo egípcio, no entanto, parece ansioso para ampliar sua relação econômica e estratégica com os turcos.Assessores de Erdogan garantem que a viagem não tem nenhuma relação com a crise com Israel. Nos últimos dias, a Turquia expulsou o embaixador de Israel, suspendeu acordos militares entre os dois países e rebaixou a relação bilateral ao nível hierárquico mais baixo na escala diplomática.A Turquia, que era um dos principais aliados de Israel no Oriente Médio, exige um pedido de desculpas pela morte de nove ativistas turcos em ataque de soldados israelenses, em águas internacionais, quando tentavam levar ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, em maio de 2010 - o território é controlado pelo Hamas, grupo islâmico palestino que Tel-Aviv considera terrorista. Um relatório da ONU sobre a flotilha, divulgado na semana passada, diz que o bloqueio de Israel ao território palestino é legal. A reação dos militares israelenses, mesmo tendo sido recebidos com hostilidade e violência pela tripulação, foi excessiva, mas "justificável", segundo a ONU. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que os soldados agiram em "legítima defesa e o país não deve desculpas à Turquia - de acordo com a investigação da ONU, no entanto, cinco dos nove mortos foram atingidos pelas costas. Os israelenses também teriam disparado contra órgãos vitais de sete vítimas múltiplas vezes. "Israel defende seus interesses e seu governo não pedirá desculpas", reafirmou ontem o ministro israelense dos Transportes, Israel Katz. "Continuaremos o bloqueio marítimo a Gaza para impedir a transferência de armas aos terroristas do Hamas."O vice-premier israelense, Moshe Yaalon, acusou ontem Erdogan de transformar a Turquia em uma "república islâmica". "Desde que assumiu o poder, ele (Erdogan) decidiu se voltar para o Oriente, em vez do Ocidente. A Turquia deixou de ser uma república secular e virou uma república islâmica." Apesar de Ancara insistir que a viagem oficial de Erdogan não tem relação com Israel, tem sido difícil evitar a especulação. Há rumores - não confirmados - de que o premiê pretende visitar Gaza e estaria apenas esperando uma autorização do governo egípcio para entrar no território palestino pelo posto fronteiriço de Rafah, ao sul do território palestino. Otan. Ontem, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou em Praga que a aliança atlântica não pretende mediar uma solução para o conflito diplomático entre Turquia e Israel. "Não vou me meter. É um assunto bilateral", afirmou Rasmussen. / AP e REUTERSCRONOLOGIAUma relação turbulenta31 de maio de 2010Israel ataca frota de ativistas que levavam ajuda para Gaza, matando 9 turcos 4 de junho de 2010Turquia reduz laços econômicos e militares com Israel, mas relação não é alterada2 de julho de 2010Pela primeira vez, Netanyahu diz que "nunca" se desculpará pelo ataque à flotilha23 de janeiro Investigação israelense diz que bloqueio a Gaza e ataque à flotilha estavam "de acordo com direito internacional"11 de fevereiroTurquia responde com investigação que afirma ter havido uso excessivo de força no ataque por parte de Israel22 de agostoNetanyahu insiste que não pedirá desculpas pela ação1º de setembroRelatório da ONU, divulgado pelo New York Times, afirma que bloqueio a Gaza é legal, mas que houve força excessiva no ataque israelense2 de setembroTurquia rejeita conclusões da ONU, expulsa embaixador israelense e reduz negócios na área de defesa e pactos militares com Israel

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