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Em Moscou, um parque de diversões e vida normal ao lado do ‘QG da crise’

Capital da Rússia mantinha clima de tranquilidade enquanto Putin e Scholz se reuniam no Kremlin

Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer
Atualização:

MOSCOU – As ruas de Moscou parecem ignorar as tensões envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Bem ao lado do Kremlin, sede do governo local, onde o presidente Vladimir Putin recebeu nesta terça-feira, 15, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, para debater a crise com o Ocidente, a Praça Vermelha abriga um parque de diversões repleto de gente feliz – e, aparentemente, despreocupada.

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Entre carrosséis, pista de patinação no gelo, vendas de souvenires e bancas de pirulito, a bancária Alissa Wehaunaut diz não acreditar na possibilidade de uma guerra entre Rússia e Ucrânia. "Nem penso nisso. Gosto de Putin e acho que ele está certo", conta à reportagem. De acordo com Alissa, sua família e seus amigos pensam como ela.

A recepcionista Catarina tem opinião semelhante, mas evita elogios diretos a Putin. “A realidade é que nunca levamos essa chance de guerra a sério. Rússia e a Ucrânia estão somente em uma batalha para mostrar quem é mais forte. Tudo ficará bem no final”, afirma, em tom tranquilo. Ela preferiu não revelar seu sobrenome.

Praça Vermelha abriga um parque de diversões ao lado do Kremlin Foto: Eduardo Gayer/Estadão

As duas entrevistadas conversaram com a reportagem na Praça Vermelha, conhecida pelos desfiles militares durante os anos de União Soviética. Também na praça ficam a Catedral de São Basílio, um símbolo da arquitetura dos tempos dos czares, e a galeria GUM, antes controlada pelo Partido Comunista e hoje um centro de compras com as lojas mais caras do capitalismo mundial.

Alegando questões de segurança de Putin, ogoverno russo não permite entrevistas em vídeo na área, que ainda abriga o hotel Four Seasons, onde o presidente Jair Bolsonaro está hospedado durante sua visita oficial a Moscou.

As questões da Rússia com a Ucrânia são seculares e envolvem pautas identitárias históricas. Ex-embaixador e professor de Relações Internacionais ESPM-SP, Fausto Godoy lembra que a civilização russa “nasceu” na região de Kiev – hoje, capital da Ucrânia. “Além disso, a Ucrânia está dividida. Parte ocidental é pró-Europa, a outra parte é separatista. Não existe coesão”, destaca o antigo funcionário do Itamaraty, sobre o delicado xadrez geopolítico local.

Frequentadores do parque pareciam preocupados apesar da crise na Ucrânia Foto: Eduardo Gayer/Estadão

O encontro entre Scholz e Putin no Kremlin, vizinho do parque de diversões, aconteceu nesta terça-feira, 15, mesmo dia do desembarque do presidente Jair Bolsonaro em Moscou e da retirada de algumas tropas russas da fronteira com a Ucrânia. Após a reunião na sede do governo, os líderes alemão e russo concordaram em colocar em pauta algumas demandas de Moscou sobre segurança.

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Na quarta-feira, é a vez do presidente brasileiro se reunir com Putin no Kremlin. A crise com a Ucrânia, contudo, não deve ser a pauta central da agenda, por orientação do próprio Itamaraty, como mostrou o Estadão/Broadcast Político. Mais do que tentar ampliar a balança comercial com a Rússia, hoje deficitária, o foco da visita oficial de Bolsonaro é manter aberto o fluxo de fertilizantes com o País.