‘Em Paris, confrontamos as diferenças’

Eleitor urbano explica como Le Pen teve só 4,99% dos votos no 1º turno na capital francesa

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Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - Em uma eleição que dividiu a França em eleitores de grandes cidades, de um lado, e de regiões rurais e pequenos centros urbanos, de outro, Paris é a capital em que a candidata de extrema direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, jamais conseguiu penetrar na campanha de 2017.

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Com 4,99% dos votos em Paris no primeiro turno, a nacionalista perdeu de longe para Emmanuel Macron, que chegou em primeiro lugar, com 34,8% dos votos, bem à frente do segundo colocado, o conservador François Fillon, com 26,4%.

Com perfil cosmopolita, a cidade continua a rejeitar o populismo mesmo com pressão migratória. Dos 20 distritos de Paris, Macron venceu em 14 no primeiro turno. Essa situação foi mais visível em dois distritos, o 2.º e o 3.º, situados no coração da capital. Nas duas regiões, a diferença entre Macron e Le Pen foi a maior: 44,4% contra 3,53% no primeiro caso, e 45,04% contra 3,33%, no segundo.

Eleitores como o editor literário Didier Dincher aderiram ao movimento de Macron Foto: Andrei Netto/Estadão

Eleitora do candidato social-liberal e militante desde o primeiro momento de seu partido, o En Marche!, a ex-professora do Massachusetts Institute of Technology Isabelle de Courtivron coordenou a campanha da nova legenda nos dois distritos e atribuiu os resultados a uma demografia eleitoral favorável.

“Nosso desempenho não é em razão apenas de nosso trabalho em favor de Macron. Tem muito a ver com a população, que no centro de Paris é muito diferente, mais voltada ao Partido Socialista (PS).” A forte concentração de militantes En Marche! em centros urbanos da França facilitou a tarefa do candidato. Nos últimos sete dias de campanha, eleitores de Macron que se tornaram voluntários realizaram uma ofensiva na capital para tentar convencer quem pensa em votar branco ou nulo, quem não deseja votar ou está indeciso.

“Tentamos organizar ações ao longo de todo o dia: colar cartazes, distribuição de flyers com programas de governo, distribuição em caixas de correio, e mais panfletagem e mais colagem de cartazes à noite”, conta Fanta Berete, responsável da campanha no 15.º distrito de Paris, o mais populoso. “Temos ainda uma ferramenta de cartografia que nos permite focar nos locais em que temos menos votos favoráveis, muita taxa de abstenção. E a ideia é ir ao encontro desses eleitores para apresentar-lhes o programa”, acrescenta Fanta.

 

Só em seu distrito, essas estratégias são levadas a cabo por 4,6 mil simpatizantes do partido, dos quais 200 em média mobilizáveis todos os dias ao serem convidados por e-mail. Severine Laffaille, empresária do ramo da comunicação, aderiu a Macron no momento em que o candidato era tido por muitos críticos como uma “bolha midiática” que explodiria a qualquer instante. “Minha sensibilidade estava mais à esquerda, votava no PS, mas sem partido, sem dogma ou ideologia”, diz Severine.

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Didier Dincher, editor literário, também se deixou seduzir pela vitalidade do partido em Paris, uma cidade impermeável à extrema direita. Mas ele sabe que no interior a realidade é diferente. “As pessoas que vivem em cidades como Paris estão habituadas a confrontar a diferença. É muito rico nesse sentido, e o discurso de Le Pen não passa”, estima. “No interior é diferente, a vida é mais dura. Em um vilarejo isolado, as pessoas se sentem mais maltratadas. E talvez conheçam menos o que é se confrontar com a diferença.”

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