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Em posse, Cristina cita Dilma e diz priorizar direitos humanos e economia

Presidente argentina faz referência à foto de sua colega brasileira sendo interrogada por militares; analistas veem inflação e comércio exterior como principais desafios.

Por Marcia Carmo
Atualização:

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tomou posse neste sábado para seu segundo mandato, em cerimônia na qual, durante seu discurso, fez referência à sua colega brasileira Dilma Rousseff. Durante a cerimônia, realizada no Congresso Nacional, diante de parlamentares e de presidentes da América Latina, Cristina citou uma foto divulgada recentemente, tirada em 1970, na qual Dilma aparece em um interrogatório, perante autoridades do regime militar. A presidente argentina referiu-se à foto ao lembrar de uma militante argentina que desapareceu nos anos 1970, durante o governo militar do país. "Hoje, Dilma ocupa a cadeira presidencial de um dos países mais importantes do mundo, e talvez aquela jovem pudesse ocupar esta mesma cadeira que ocupo hoje", afirmou Cristina. A presidente argentina, que tomou posse no Dia Internacional dos Direitos Humanos, sugeriu que o tema será prioridade em seu novo mandato, assim como a economia, a inclusão social e a implementação total da lei de mídia, que causa polêmica no país. Dilma passou menos de 24 horas em Buenos Aires, sem falar com jornalistas. Segundo assessores, ela almoçou com um pequeno grupo de auxiliares num restaurante no bairro boêmio de San Telmo e tentou visitar uma livraria no caminho de volta para a base aérea da capital argentina, antes de partir para Brasília. No entanto, reconhecida por turistas brasileiros, ela desistiu de entrar na livraria. Vestida de azul e com uma aparência séria, a presidente partiu acompanhada do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, da ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, e de seu porta-voz, Rodrigo Baena Soares. Referências a Kirchner Cristina, 58 anos, recebeu a faixa presidencial da filha, Florência, 21 anos. Em seu discurso, a presidente fez várias referências ao marido e ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007), que morreu em outubro do ano passado. "Juro por Deus, pela pátria e aos santos evangélicos. Que Deus, a pátria e ele (Kirchner) me demandem (caso não cumpra suas funções)". A presidente fez um apelo ao Congresso Nacional para que aprove projetos de lei do governo, como a lei de terras, que limita a venda de terrenos aos estrangeiros, e destacou a lei de mídia - aprovada em 2009, mas ainda não totalmente em vigor e que é contestada por empresas do setor. "A lei de audiovisuais foi construída com diferentes forças políticas com objetivo de dar pluralidade as vozes e ao anti-monopólio", afirmou Cristina. A lei limita a fatia de mercado das principais empresas de mídia, como o grupo Clarín, abrindo caminho para companhias menores. Críticos da lei afirmam que este espaço seria ocupado por emissoras ligadas a setores que apoiam o governo. Sobre a lei de terras, ela afirmou que "não se trata de uma lei xenofóbica e não afeta direitos adquiridos mas corresponde ao mundo de hoje, globalizado". Desafios para Cristina Nos últimos dias, analistas afirmaram que os principais de Cristina em seu novo mandato serão o combate à inflação, o desequilíbrio da balança comercial com o Brasil e a quitação da divida externa do país. Oficialmente, a inflação está em torno de 10% ao ano, mas institutos oficiais dos governos provinciais e consultorias privadas indicam que o índice real seria de pelo menos o dobro disso. A expectativa é que o novo ministro da Economia, Hernán Lorenzino, administre pendências econômicas, como o pagamento ao Clube de Paris, para quem a Argentina deve cerca de US$ 7 bilhões. Economistas argumentam que esta dívida impede o país de sair da moratória decretada durante a crise de 2001-2002. Outra expectativa, nutrida por empresários locais, é relativa às medidas do governo para o setor de comércio exterior, em um momento de forte crescimento das transações com o Brasil, que apresenta um crescente deficit para a Argentina. Em encontro realizado nessa sexta-feira, Marco Aurélio Garcia e o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, disseram que os dois países analisam formas de ampliar o atual acordo do setor automotivo, fundamental para as exportações argentinas para o Brasil. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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