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Em recuperação, Trump evita falar de covid e diz estar ansioso pelo próximo debate com Biden

Presidente usou as redes sociais para fazer campanha, mas evitou falar de sua condição de saúde; uma das postagens, que comparava a covid à gripe, foi removida pelo Facebook por divulgar informação falsa

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla , Correspondente e Washington
Atualização:

No primeiro dia de trabalho na Casa Branca, após três noites no hospital militar Walter Reed, Donald Trump disse nesta terça-feira, 6, que pretende ir ao debate com Joe Biden, dia 15, e tentou tirar sua saúde do centro das atenções. Em isolamento e impedido de fazer comícios em razão da covid-19, ele fez campanha pelo Twitter. 

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Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais era o vídeo em que Trump parecia respirar com dificuldade ao tirar a máscara em frente à Casa Branca. Hoje, porém, das 18 mensagens no Twitter, o presidente falou do vírus apenas em 3. Em uma, ele disse estar se sentindo “ótimo”. Em outra, acusou a “imprensa fake news” de só querer falar de covid. A última mensagem foi derrubada pelo Facebook por divulgar informação falsa ao comparar o coronavírus à gripe. 

A maior parte do foco de Trump se voltou a ataques contra Biden. Ele disse estar “ansioso” para participar do segundo debate, mas não é possível saber se o presidente estará curado ou se ainda será um agente de transmissão. Amanhã, o debate será entre os candidatos a vice. Por exigência da democrata Kamala Harris foram instaladas placas de acrílico entre ela e o republicano Mike Pence no encontro em Salt Lake City. 

Trump retornou à Casa Branca na segunda-feira, 5, após quatro dias no hospital Walter Reed Foto: Anna Moneymaker/NYT

Em uma decisão surpreendente, Trump rompeu hoje as negociações com o Congresso sobre um novo pacote de estímulo econômico a ser oferecido durante a pandemia. Segundo ele, a articulação está suspensa até a eleição. Trump acusou a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, de ser a culpada pelo fracasso.

A decisão provocou surpresa entre analistas políticos. A economia é o ponto forte de Trump e a maioria dos americanos defende um novo pacote de socorro de US$ 2 trilhões. “Claramente a Casa Branca está em desarranjo”, disse Pelosi, que sugeriu que os esteroides que Trump tomou para combater a covid estão afetando seu pensamento.

A estratégia de tirar das manchetes o seu estado de saúde, no entanto, pode beneficiar o presidente. “Trump oscilou negativamente nas pesquisas desde sexta-feira, a doença criou insegurança. A campanha pretende mudar a agenda. E a expectativa do partido é que, daqui a quatro ou cinco dias, ninguém fale mais da infecção”, afirma o professor da Universidade George Washington, Maurício Moura. 

A divulgação de informações sobre a saúde do presidente também se tornou mais discreta. Diferentemente dos últimos dias, não houve entrevista coletiva nem atualizações médicas. A única novidade foi um relatório em que o médico Sean Conley afirma que Trump está sem sintomas e com sinais vitais estáveis, com nível de saturação de oxigênio entre 95% e 97%.

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Segundo o New York Times, o presidente pensou em fazer um pronunciamento nacional hoje, mas aparentemente desistiu. O clima na Casa Branca é de preocupação com a propagação do vírus. Ao menos 19 pessoas que estiveram em contato com o presidente ou que participaram da cerimônia de nomeação da juíza Amy Coney Barrett à Suprema Corte, feita na Casa Branca há dez dias, foram infectadas.

Já Biden continuou com a campanha. Depois de ter ido à Flórida, na segunda-feira, o candidato democrata viajou hoje para a Pensilvânia e segue amanhã para o Arizona. Ele disse que pretende ir ao debate, mas fez uma ressalva. “Se ele (Trump) ainda estiver com covid, não deveríamos ter o debate”, disse.

Nesta terça, o candidato democrata ampliou a vantagem sobre Trump na corrida eleitoral americana. De acordo com pesquisa encomendada pela rede americana CNN, o ex-vice de Barack Obama lidera com vantagem de 57% a 41% das intenções de voto.

De acordo com a pesquisa - realizada após o anúncio de contaminação de Trump por covid-19 -, Biden lidera a preferência dos eleitores em diversos quesitos considerados importamtes para a decisão do voto na eleição deste ano.

Entre os prováveis eleitores (aqueles que ainda não se registraram para votar), por exemplo, o democrata é visto como mais confiável quando os assuntos são a pandemia do novo coronavírus (59% a 38%), saúde (59% a 39%), desigualdade racial (62% a 36%), nomeações para o Supremo Tribunal Federal (57% a 41%) e crime e segurança (55% a 43%).

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