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Em resposta a Obama, presidente cubano diz que discute sobre tudo

Na véspera da Cúpula das Américas, EUA pedem ?gesto? e Raúl se dispõe a falar sobre presos e direitos humanos

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Na véspera da abertura da 5ª Cúpula das Américas, o presidente cubano, Raúl Castro, declarou ontem, na Venezuela, estar disposto a discutir "todas as coisas" com os EUA, segundo a agência de notícias Associated Press. A declaração, é uma resposta ao presidente dos EUA, Barack Obama, que horas antes, numa entrevista à TV CNN em espanhol, cobrou uma contrapartida do regime cubano à iniciativa americana de eliminar restrições a remessas de divisas e a viagens a Cuba. "Mandei dizer ao governo americano, em privado e em público, que estamos dispostos a discutir tudo - direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos", disse Raúl em discurso durante reunião na Venezuela. Ele acrescentou que Cuba está aberta a discutir "em igualdade de condições, sem a menor sombra sobre nossa soberania e sem a mínima violação do direito de autodeterminação do povo cubano". Obama disse na entrevista esperar que Havana permitisse que cubanos viajem ao exterior. No Haiti, a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, ampliara as demandas da Casa Branca e cobrou a "democratização de Cuba" e a "libertação de presos políticos". A exigência de contrapartidas pela novo governo americano deverá repercutir na cúpula de Trinidad e Tobago que, entre hoje e domingo, selará o primeiro contato entre Obama e os líderes da América Latina e do Caribe. Ainda ontem, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, advertiu que não assinará o documento final da cúpula e seus aliados seguirão a mesma linha. Na cidade venezuelana de Cumaná, Chávez reuniu-se ontem com sete líderes da região, entre os quais Raúl Castro, para "afinar a artilharia" para o evento (mais informações nesta página). Fontes em Port of Spain disseram que Venezuela e Nicarágua se opõem especialmente a dois artigos do esboço da declaração. O primeiro refere-se ao sistema interamericano de direitos humanos e o segundo é um reconhecimento do papel da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ambos são interpretados pelo "bloco bolivariano" como contrários à reinserção plena de Cuba à comunidade interamericana. Chávez declarou ontem que espera encontrar-se com Obama, em Port of Spain, para que ambos possam "dizer nossas verdades". Mas, à noite a Casa Branca descartou a possibilidade de uma reunião bilateral entre Chávez e Obama. "Ao mesmo tempo em que levantamos as restrições às viagens, o certo é que há cubanos que não podem viajar para fora de Cuba", declarou Obama à CNN, após ressaltar, diplomaticamente, que a ilha "pode ser um elemento crucial do crescimento econômico regional". "Não espero que os cubanos venham a implorar algo, mas que haja mudanças que permitam a liberdade de associação, que as pessoas possam se expressar, ir à igreja, exercer os mesmos direitos que no restante das Américas", completou. Na entrevista, Obama qualificou o Brasil como "potência econômica e peça-chave no cenário mundial", acrescentando que sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a de "dois líderes de grandes países que devem ser parceiros". A diplomacia brasileira trabalha numa discreta lógica de persuasão do regime cubano. Na terça-feira, o chanceler Celso Amorim avaliou a iniciativa de levantar as restrições a Cuba como um "pequeno passo na direção certa". Mas enfatizou que os EUA não deveriam condicionar seus próximos passos a contrapartidas de Havana. Esta semana, os EUA levantaram as restrições às remessas e às viagens de cubano-americanos a Cuba e permitiram que empresas americanas de telecomunicações atuem na ilha. As medidas não relaxaram o embargo econômico adotado pelos EUA desde 1962, mas indicaram a intenção da Casa Branca de flexibilizá-lo. Ontem, jornais latino-americanos publicaram um artigo de Obama, conclamando os países da região a se unirem aos EUA "para apoiar a liberdade, a igualdade e os direitos humanos dos cubanos".

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