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Em seu 1º ano de pontificado, Bento XVI dá guinada

Em maio do ano que vem ele viajará ao Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Um ano depois de ter sido eleito o 265° sucessor de São Pedro, Joseph Ratzinger deu uma guinada em seu pontificado. Até o final do ano passado havia tomado poucas decisões, mas a partir de janeiro o ritmo mudou. Ele divulgou o seu primeiro documento - a Encíclica "Deus é Amor" -, nomeou 15 novos cardeais e começou a mexer na poderosa Cúria Romana. Lento e reflexivo, esperou para ter conhecimento da situação antes de tomar decisões que devem revolucionar a Igreja, segundo observadores do Vaticano. Alberto Melloni, professor de história da Igreja, define este início de pontificado como sendo de transição. "O papa deixa aos poucos desvanecer o excesso e a prepotência da superexposição na mídia de João Paulo II", disse em entrevista à BBC Brasil. Audiências Bento XVI, de 79 anos, eliminou sua participação em algumas cerimônias. Não celebra mais beatificações, apenas canonizações (declarações oficiais de santidade). Ele reduziu ainda suas audiências em 70%, dedicando mais tempo para ouvir as pessoas que encontra. "João Paulo II encontrava muita gente, mas superficialmente. Ratzinger recebe menos pessoas, mas dedica a elas mais tempo e atenção?, observou o vaticanista Sandro Magister. As visitas ad limina, que os bispos de outros países fazem ao papa a cada cinco anos para dar a ele informações atualizadas sobre os problemas de suas regiões, são outro exemplo, segundo Magister, de um estilo diferente na condução da igreja. "Ele se prepara, fala com um bispo de cada vez, não são encontros de rotina. Conta muito com a colaboração dos bispos para colocar a igreja de volta no caminho que programou, e por isso dá muita atenção às nomeações?. O vaticanista vê, no diálogo com os bispos e com os cardeais, que o papa convocou recentemente à Roma, um início de colegialidade - a decentralização do poder da Santa Sé. "Colegialidade" Alberto Melloni, autor do livro O início de papa Ratzinger, não é da mesma opinião. Ele acha que é necessário um gesto mais claro. "Colegialidade não é reunir-se por três horas com bispos e cardeais. É preciso ver se vai criar ou não um órgão novo, específico para representar a colegialidade na igreja.? Uma das críticas feitas a João Paulo II é que não cuidava do governo da igreja. Preferia dar atenção às viagens e delegava o comando à Cúria. Com Bento XVI isso mudou. "Ratzinger dirige a Igreja. Foi um pedido claro dos cardeais no conclave", afirmou o vaticanista Andrea Tornielli. De acordo com os analistas, Bento XVI demonstrou que é ele quem decide ao transformar 4 ministérios em 2. Um modo de reduzir funcionários e gastos, mas também de indicar a linha política, no caso do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, que foi englobado pelo Conselho para a Cultura. O presidente do Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, monsenhor Michael Fitzgerald, foi destituído e enviado para o Cairo como núncio apostólico, uma decisão considerada sem precedentes. Islã "Suas posições de abertura para com o Islã não coincidiam com as do papa", comentou Sandro Magister. Segundo ele, Ratzinger não busca acomodações no diálogo com as outras religiões. ?Ele quer discutir com todos, mas passando uma imagem muito forte da Igreja Católica?. A mudança na linha do diálogo com as outras religiões ficou clara no final do ano passado. Um decreto de Bento XVI limitava a autonomia dos franciscanos da basílica de Assis. Apoiados pelo papa João Paulo II, eles organizavam encontros e manifestações com diferentes representantes religiosos, inclusive muçulmanos. Na opinião de Sandro Magister, Joseph Ratzinger está preparando uma reviravolta interna na Cúria. Sua intenção seria voltar ao esquema anterior ao papa Paulo VI. Dar menos poder para a Secretaria de Estado e colocar a ex-Inquisição no centro do sistema, sob a dependência direta do papa. Isto de fato já é assim, segundo o vaticanista. Mesmo sendo presidida pelo cardeal William Levada, a Congregação para a Doutrina da Fé continua sendo governada por Ratzinger, que foi o guardião da ortodoxia durante 25 anos. "Até agora, todos os documentos e atos da Cúria passavam pelo crivo da Secretaria de Estado, que terá menos peso. A filtragem e o controle da doutrina serão feitos pelo ex-Santo Ofício?, prevê Magister. Liturgia O retorno à tradição marca também o estilo das celebrações litúrgicas, uma grande preocupação de papa Bento XVI. O canto gregoriano voltou a acompanhar suas missas e o latim é muito mais usado do que antes. "Celebrações espetaculares com elementos de outras culturas, como se fazia durante o pontificado de João Paulo II, são impensáveis com Ratzinger?, comenta Sandro Magister. Bento XVI não está acostumado a usar os gestos, mas palavras e conceitos, dizem os analistas, que também, neste aspecto, comparam-no ao seu predecessor. "Oitenta por cento do que o papa polonês lia ou publicava, não era escrito por ele mas por seus colaboradores. Ele apenas supervisionava. Ratzinger escreve tudo de próprio punho?, segundo o escritor católico Vittorio Messori. Viagem ao Brasil Quanto às viagens, que foram uma das características do pontificado de João Paulo II, neste primeiro ano, o papa Ratzinger não ficou atrás. Tem quatro na agenda: Polônia, Alemanha, Espanha e Turquia. Em maio do ano que vem ele viajará ao Brasil. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

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