FILADÉLFIA - Isabel Wilkening viajou 20 horas de ônibus desde Orlando com um grupo de 115 imigrantes latinos para assistir ontem à missa celebrada pelo papa Francisco na Filadélfia a centenas de milhares de pessoas vindas de vários Estados americanos e diferentes partes do mundo. Como muitos que vivem nos EUA, ele carregava a esperança de que os seis dias de visita do pontífice reduzam a polarização política e aumentem a compaixão e a tolerância no país.
Em sua última cerimônia em solo americano, o pontífice voltou a pedir unidade e ação. “Nossa casa comum não tolera mais divisões estéreis”, afirmou. “O desafio urgente de proteger nossa casa inclui a preocupação de unir toda a família humana em busca de desenvolvimento sustentável e integral.”
No discurso de despedida no aeroporto, o papa disse que um dos momentos mais emocionantes de sua passagem pelos EUA foi a visita ao Marco Zero dos ataques do 11 de Setembro, “um lugar que fala de maneira tão poderosa do mistério do mal”. Mas ressaltou: “Sabemos com segurança que o mal nunca tem a última palavra e, no plano misericordioso de Deus, o amor e a paz triunfam sobre tudo”.
Os dois dias de Francisco na Filadélfia foram marcados pelas multidões e a exaltação da família. Milhares de pessoas ocuparam as ruas da cidade no fim de semana e fizeram filas intermináveis ontem para passar por revistas e detectores de metais que cercavam o local da missa, celebrada ao ar livre.
Nascida em Porto Rico, Wilkening disse acreditar que a ênfase dada pelo papa à imigração e ao combate à mudança climática influenciará o debate político nos EUA. “Nós já estamos vendo a diferença, vendo mais unidade. Veja quantas pessoas estão aqui. Nem todos são católicos”, observou.
O peruano Michael Vargas não tem religião e foi à Filadélfia com a mulher, Rosi, que é católica. “Sua mensagem une as pessoas e vai além dos limites da política e da religião. É uma mensagem necessária, especialmente neste momento de polarização política na América”, avaliou Vargas, que vive no Estado da Virgínia há 36 anos. “Esse é um papa peculiar, que tocará muitas pessoas”, opinou o peruano, impressionado com a reação extremamente positiva que o papa encontrou no país.
Com o marido americano e 49 amigas filipinas, Maria Parent foi ontem de Nova York à Filadélfia para assistir à missa. “Ficarei feliz mesmo se conseguir vê-lo só de relance. Ver o papa é estar no céu.” Segundo ela, não são só os católicos que estão “loucos” por Francisco. “Pessoas de outras religiões estão hipnotizadas com ele.”
Parent acredita que o pontífice terá impacto positivo no mundo político e na Igreja Católica. “Espero que ele modernize a Igreja e abra caminho para o retorno de muitos dos que deixaram de ser católicos”, afirmou, fazendo referência especial a questões relacionadas à sexualidade e à organização familiar. “Adorei quando ele disse ‘quem sou eu para julgar?’.”
Mas a mensagem do papa foi interpretada de maneira distinta por diferentes grupos de católicos. Christian B., de 27 anos, foi à Filadélfia participar do Encontro Mundial de Famílias, encerrado ontem pelo papa. Nos pronunciamentos que fez aos participantes, Francisco deixou claro que a Igreja vê a instituição como a união entre um homem e uma mulher.
Criado em uma família católica de dez filhos, Christian afirmou que esse foi o principal recado do papa. “Ele promoveu a família e a cultura da vida”, disse, referindo-se ao fato de que o pontífice defendeu a vida em todos os seus estágios de desenvolvimento, condenando o aborto.