Em viagem, Rice corteja forças árabes moderadas

Rice quer trabalhar com uma coalizão de países árabes moderados a fim de conter a ameaça dos extremistas

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Por Agencia Estado
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Um pouco mais de um ano atrás, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, fez um importante discurso no Cairo que deveria ter marcado um divisor de águas na política externa americana. Na ocasião, ela reconheceu que a estratégia dos Estados Unidos de privilegiar a estabilidade no Oriente Médio em detrimento da democracia não havia conquistado nem uma coisa nem outra. "Nós estamos tomando um rumo diferente. Nós estamos apoiando as aspirações democráticas de todos os povos", afirmou Rice. Um ano depois, porém, e novamente em uma turnê pelo Oriente Médio, a secretária de Estado americana está falando menos de democracia e mais sobre "forças moderadoras". Países que se encaixariam nessa categoria, como Egito e Arábia Saudita, não fizeram muito para libertar as suas sociedades. Na realidade, eles simplesmente agiram no interesse dos Estados Unidos ao coibir o extremismo islâmico. Embora não admita isso publicamente, o governo Bush mudou a sua política porque a democratização do Oriente Médio não está indo de acordo com os seus planos. Coalizão de ´moderados´ A eleição do Hamas, a ascensão do Hezbollah e o fracasso da tentativa de instaurar a paz e a estabilidade no Iraque são razões para uma nova ênfase na moderação, em vez da democratização, embora as ambições de Condoleezza Rice em relação a esta visita sejam mais práticas do que visionárias. Rice quer trabalhar com uma coalizão de países árabes moderados a fim de conter a ameaça dos extremistas. Idealmente, a aliança ajudaria a dar sustentação às frágeis democracias do Iraque e do Líbano e solaparia a ameaça representada por Irã, Síria, Hamas e Hezbollah. O presidente Bush tem consciência de que, para atingir seus objetivos, precisa fazer mais pela causa palestina. Portanto, mais uma vez, ele despachou sua secretária de Estado para se encontrar com o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. É difícil, porém, antever que tipo de progresso ela pode obter na tentativa de reavivar as negociações de paz. Olmert saiu enfraquecido da guerra com o Hezbollah no Líbano. Abbas também deverá ter problemas para convencer o Hamas a reconhecer Israel e, sem isso, os americanos não vão nem cogitar conversar com o Hamas. Programa nuclear Há outras duas questões pairando sobre essa viagem: Condoleezza Rice indicou aos que viajaram com ela no avião que pode se encontrar com os outros membros permanentes do Conselho de Segurança (Grã-Bretanha, França, China e Rússia) e a Alemanha para discutir a crise em torno do programa nuclear iraniano ainda nesta semana. Talvez este seja um sinal de que o tempo está se esgotando para o Irã decidir se acata a exigência da comunidade internacional sobre a suspensão do programa de enriquecimento de urânio. Certamente os Estados Unidos estão tentando aumentar as pressões pelas sanções. A outra questão é a menção comprometedora a ela no livro State of Denial, do jornalista veterano Bob Woodward, lançado recentemente. O livro descreve um encontro em julho de 2001 em que Condoleezza Rice - na época assessora de segurança nacional - foi alertada por altos funcionários da área de segurança para a possibilidade de um ataque, possivelmente nos Estados Unidos. Isso é potencialmente muito danoso. Mas falando no avião antes de chegar à Arábia Saudita, primeira etapa da viagem, ela disse aos jornalistas que, embora tenha tido diversos encontros para discutir o risco de atentados no país, ela teria se lembrado de um alerta tão contundente e que ignorá-lo teria sido "incompreensível". Essa explicação pode ser suficiente para calar seus críticos por ora. Mas, no meio da campanha eleitoral para as eleições parlamentares, e com a segurança nacional no centro da campanha, esta pode não ser a última vez que essa polêmica vem à tona. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

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