12 de agosto de 2010 | 17h31
BRASÍLIA- O embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, negou nesta quinta-feira, 12, que o governo brasileiro tenha feito uma oferta formal a Teerã de "asilo humanitário" para a iraniana Sakineh Ashtiani, de 43 anos, condenada a apedrejamento primeiramente por adultério e agora por suposto homicídio de seu marido.
Veja também:
TV iraniana mostra entrevista com suposta confissão de Sakineh
Irã veta envio de condenada ao Brasil
25 aguardam execução por apedrejamento no Irã
Hillary Clinton pressiona Irã por execuções
Como Irã, Japão e EUA adotam pena de morte
ESPECIAL - Caso Sakineh Ashtiani
"Nós não recebemos de forma oficial pedido ou oferta alguma [de asilo ou refúgio político] para esta senhora ser enviada para o Brasil. Não houve ofício por escrito, nota oral ou troca de notas, como é a orientação na diplomacia em casos assim", afirmou o embaixador em entrevista à Agência Brasil.
Shaterzadeh reiterou, porém, que a interpretação do assunto por parte do Irã não significa desrespeito à oferta de Lula para que a mulher fosse enviada para o Brasil. "Nós respeitamos muito o presidente Lula. Confiamos cem por cento na ideia de que ele não quis interferir em assuntos internos do Irã. Ele foi movido por sentimentos humanos e quando o nosso porta-voz disse isso, foi com muito respeito a ele."
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou que houve uma oferta do governo para o envio de Ashtiani para o Brasil. "Houve comentários feitos em nível diplomático que explicavam [a condenação]. Talvez eles estejam considerando isso como uma resposta oficial, dizendo que ela é acusada não só de adultério, mas de cumplicidade em homicídio", afirmou.
"O presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] expressou o oferecimento de recebê-la no Brasil, se isso ajudar a evitar a execução", disse ele. "Nosso embaixador em Teerã foi instruído a comunicar o fato, o que, a nosso ver, é uma formalização deste oferecimento e do sentimento que é o do povo brasileiro".
Shaterzadeh disse ainda que o processo de adultério foi encerrado e que Sakineh é acusada "apenas" de assassinato do marido. O embaixador não confirmou que a pena de morte por apedrejamento tenha sido substituída por enforcamento. Segundo ele, o processo está em curso e ainda não foi encerrado e, por essa razão, há possibilidade de alterações.
"Posso enfatizar que não é uma questão de adultério, mas de assassinato", afirmou. "Será que se este crime tivesse ocorrido em outras partes do mundo, todos estariam reagindo desta forma?", perguntou.
Há cinco anos, a viúva Ashtiani, mãe de dois filhos, foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério e ter mantido relações sexuais com dois homens. Ela e a família negam as acusações. O advogado dela, Mohammad Mostafaei, recebeu asilo na Noruega. Ele tenta levar a família, alegando que todos correm riscos no Irã.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.