Embaixador dos EUA na ONU zomba de ´incidente´ com chanceler venezuelano

O governo da Venezuela não aceitou o pedido de desculpas oferecido pelos EUA e encaminhou uma reclamação formal à Secretaria-Geral da ONU

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Por Agencia Estado
Atualização:

O embaixador dos Estados Unidos na ONU, John Bolton, zombou nesta segunda-feira da denúncia feita pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, que ficou detido temporariamente no aeroporto JFK, de Nova York, no sábado, e classificou a queixa do diplomata de "teatro de rua" e propaganda. Maduro ficou detido mais de uma hora no aeroporto. Acompanhado da família e de assessores, ele tentava voltar a Caracas depois de ter participado da 61ª Assembléia-Geral da ONU. "Fomos detidos e os policiais ameaçaram bater em nós. O governo americano tem de ser responsabilizado por isso", afirmou o chanceler logo depois do incidente. Segundo a versão americana, os inspetores do aeroporto suspeitaram porque Maduro teria utilizado dinheiro vivo para comprar os bilhetes de viagem pouco antes da saída do vôo a Miami, onde tomaria um outro avião para a Venezuela. O incidente aumentou ainda mais as tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, dias depois de o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ter chamado seu colega americano, George W. Bush, de "diabo" durante seu discurso na Assembléia Geral. Domingo passado, dia 24, o Departamento de Estado dos EUA, pediu desculpas pela forma como Maduro foi tratado no aeroporto nova-iorquino, mas hoje Bolton foi menos conciliador. "Não houve nenhum ´incidente´ no aeroporto. Isto foi um teatro venezuelano", afirmou Bolton. "Ele não pediu as cortesias diplomáticas que teriam facilitado sua passagem pelo aeroporto. Comprou seu bilhete em certo momento, de certa maneira e com certos fundos, levando os agentes a solicitarem uma segunda revisão e ele se recusou". "A primeira coisa que ele fez foi chamar a imprensa e falar em espanhol, o que configura propaganda", afirmou Bolton. O governo da Venezuela não aceitou o pedido de desculpas oferecido ontem pelo Departamento de Estado e encaminhou uma reclamação formal aos Estados Unidos e à Secretaria-Geral da ONU, dizendo que o incidente foi uma flagrante violação das leis internacionais. As versões sobre o que realmente aconteceu no aeroporto variam de acordo com as fontes. Maduro disse que ficou confinado em uma pequena sala e que policiais inspecionaram sua bagagem, confiscaram sua documentação, tentaram revistá-lo pedindo que abrisse braços e pernas e "estiveram a ponto" de bater nele. "Disseram que na minha passagem havia um código que quase me qualifica como um terrorista", declarou Maduro logo após ser liberado. Segundo o governo venezuelano, a polícia teria interrogado Maduro sobre seu suposto envolvimento na fracassada tentativa de golpe na Venezuela em 1992, liderada pelo hoje presidente Chávez. "Maduro nem sequer participou (da rebelião)", declarou Chávez após o incidente de sábado, definindo-o como "mais uma provocação do Mr. Diabo" - referência a Bush. De acordo com a Casa Branca, que também lamentou ocorrido, os seguranças que detiveram Maduro não sabiam de quem se tratava e lhe pediram que se submetesse a um segundo controle de segurança. O fato de o chanceler, sua mulher e filho terem chegado ao aeroporto apenas 30 minutos antes do embarque e de terem pago as passagens em dinheiro levantou suspeitas da segurança. Ainda segundo fontes da Casa Branca, Maduro só teria se identificado como diplomata depois de ter seu celular, passagem e passaporte confiscados. Nesse momento, ele teria sido autorizado a embarcar - mas Maduro optou por ficar em Nova York.

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