Embaixador líbio nos EUA se soma à onda de renúncias de diplomatas

Ali Aujali disse que não quer representar o 'regime ditatorial' de Muamar Khadafi.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Diplomatas se queixam da forte reação estatal contra os manifestantes Mais um diplomata líbio desertou o regime de Muamar Khadafi nesta terça-feira. O embaixador do país nos Estados Unidos, Ali Aujali, disse que não representa mais o "regime ditatorial" de seu país e pediu pela saída de Khadafi. "Renuncio a meu serviço ao atual regime ditatorial. E peço a ele (Khadafi) que deixe nosso povo em paz", disse Aujali. Na véspera, diplomatas que até há pouco serviam ao regime de Khadafi haviam anunciado que se aliariam à oposição ao líder. Foi o caso do vice-embaixador da Líbia na ONU, Omar Al-Dabbashi, que qualificou de "genocídio" a reação governamental aos protestos nas ruas da capital Trípoli, onde, segundo relatos, aviões e franco-atiradores dispararam contra manifestantes civis. Também na segunda-feira, o embaixador líbio na Índia, Ali Al-Issawi, disse à BBC que decidiu deixar o cargo em protesto contra o uso de violência por parte do governo e afirmou que mercenários estrangeiros foram mobilizados para atuar contra cidadãos líbios. Também renunciaram o embaixador líbio na Liga Árabe e na China e o ministro da Justiça do país, Mustafa Abdal Khalil, segundo o jornal Quryna. Há relatos de deserção também entre membros das forças de segurança. Segundo a rede Al-Jazeera, parte da fronteira entre Líbia e Egito havia sido abandonada pelos guardas que faziam o controle de passagem, forçando as autoridades egípcias a enviar mais soldados à divisa. E, na segunda-feira, dois soldados líbios aterrissaram em Malta alegando que se recusavam a usar sua aeronave para alvejar a população. Tensão Em Trípoli, o clima é de tensão, segundo a correspondente da BBC na cidade. As ruas estão quase vazias, mas há filas para comprar pão e gasolina. A maioria do comércio está fechada. Há relatos de distúrbios e incêndios em alguns locais, e a presença do Exército é constante pelas ruas. Muitas pessoas temiam sair de casa após uma noite de confrontos duros. Testemunhas relataram cenas de massacre e de corpos que se acumulavam nas ruas em algumas partes da cidade. "Eles não fazem distinção (entre civis e militares), estão atirando para limpar as ruas", disse nesta terça à BBC News um morador de Trípoli, que não quis se identificar. "(Os atiradores) não são humanos, não sei o que são." Não é possível obter uma confirmação oficial sobre o número de mortos, que já são centenas. Mas a ONG Human Rights Watch diz que, apenas em Trípoli, ao menos 62 pessoas morreram nos distúrbios desde domingo. Ao mesmo tempo, dezenas de milhares de estrangeiros tentam deixar a Líbia, mas muitos países - caso do Brasil - enfrentam dificuldades em obter autorização para pousar seus aviões em solo líbio e resgatar seus cidadãos. Khadafi - que governa a Líbia desde um golpe dado em 1969 - deve se pronunciar ainda nesta terça, segundo a TV estatal do país. Na noite de segunda, ele discursou menos de 30 segundos, apenas para confirmar que não havia deixado o país rumo à Venezuela e para dizer que a imprensa estrangeira está divulgando "rumores maliciosos". Muitos líbios reagiram com indignação ao discurso, pelo fato de Khadafi não ter se manifestado sobre os confrontos nas ruas de Trípoli. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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