Embaixador prevê maior rigidez na política de imigração dos EUA

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Por Agencia Estado
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A política norte-americana em relação à imigração deve se tornar ainda mais rígida depois do ataque terrorista de ontem ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. "Se antes já era difícil, imagina como será a partir de agora", disse à Agência Estado o embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa. Depois do episódio em Oklahoma, protagonizado por um americano e do ataque anterior ao próprio World Trade Center, o então presidente Bill Clinton determinou leis rígidas jamais vistas em território norte-americano, que acabaram sendo chamadas de "antiterroristas". O embaixador Rubens Barbosa acredita que é muito cedo para prever o que o governo norte-americano fará, por exemplo, em relação aos mexicanos, que representam a maior corrente migratória para o território dos Estados Unidos. Segundo Barbosa é difícil imaginar, neste momento, que o presidente George W. Bush venha a apoiar uma pacote de imigração para a legalização de milhões desses mexicanos. "Acho muito difícil que Bush examine o pedido do presidente Vicente Fox, mais ainda quando o sentimento antiestrangeiro aqui nos EUA possa vir a ficar ainda pior", acrescentou o embaixador por telefone de Washington. O embaixador do Chile em Brasília, Carlos Eduardo Mena, acredita que as relações internacionais sofrerão uma mudança radical depois do dia 11 de setembro deste ano, quando o primeiro jato investiu contra a primeira torre do World Trade Center. "As políticas externa e interna norte-americanas vão ser revisadas, disso não há dúvida. Mas o maior alvo deve ser a política de imigração", afirmou o embaixador chileno. Mena acredita também que a bipolaridade que aparentemente havia desaparecido com o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim poderá voltar a renascer. Mas, desta vez, entre o terrorismo e o mundo ocidental que luta contra ele. "O que ocorreu ontem muda a concepção da guerra", disse o embaixador. Para ele, a guerra não tem mais a ver apenas com questões militares, mas envolve também questões culturais e religiosas. "Vimos que quem ataca agora está simplesmente disposto a morrer´, acrescentou. Para ministro Celso Lafer, o que aconteceu nos EUA altera o funcionamento do sistema internacional de maneira muito mais incisiva do que na época da queda do Muro de Berlim. "A queda do Muro representou perspectivas positivas em relação à convivência internacional porque trouxe o fim da bipolaridade. O que vivenciamos com o ataque aos EUA coloca uma nuvem negra de alcance inimaginável", afirmou o ministro. Ainda em relação ao México, país que está perto de ingressar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o momento não poderia ser pior. De acordo com analistas, é quase certo que esse órgão da ONU tenha de apoiar medidas militares em áreas geográficas onde o México, tradicionalmente, não tem tido ingerência e muito menos interesse nacional. Desde que o México decidiu fazer parte do Nafta (North America Free Trade Agreement), sempre se soube que o país teria de pagar um custo, não só por apoiar os Estados Unidos, mas também por fazer parte hoje do grupo dos países grandes. O México é o único país latino-americano a fazer parte da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Imediatamente depois das primeiras explosões e m Nova York, por exemplo, quatro pontes que unem o México aos EUA foram fechadas por medidas de segurança. Inicialmente o governo mexicano havia informado que os EUA haviam ordenado o fechamento das 51 pontes espalhadas nos 3,2 mil quilômetros de fronteira entre os dois países. Mas a medida acabou não sendo aplicada. Apenas houve um reforço no esquema de segurança, com o qual o trânsito entre os dois lados ficou lento. Milhões de mexicanos e norte-americanos cruzam a fronteira a cada ano. O embaixador Rubens Barbosa acredita, porém, que a maior preocupação do governo norte-americano é procurar pelos autores dos atentados de ontem, antes mesmo de tomar quaisquer medidas adicionais sobre a sua política de migração. As autoridades mexicanas também declinam de fazer projeções sobre as possíveis medidas que o governo irá tomar daqui em diante. E mais, ninguém arrisca quais serão os impactos sobre a economia. Alguns analistas acreditam que o resultado do ataque pode levar os investidores nos Estados Unidos a se voltarem a aplicações mais seguras, como bônus do Tesouro norte-americano e ouro. O embaixador chileno não tem dúvidas de que o ataque terrorista trará fortes efeitos econômicos e comerciais. O Chile hoje é um dos poucos países que têm negociações adiantadas para a formação de uma área de livre comércio com os EUA. "É prematuro dizer o que pode ocorrer, mas acredito que a aproximação comercial pode ficar extremamente prejudicada ou, ao contrário, ser acelerada", disse Mena. De acordo com ele, um maior xenofobismo por parte do povo norte-americano pode fazer com que os EUA fechem as suas fronteiras, como a necessidade de uma maior solidariedade possa provocar uma flexibilização maior dos políticos em relação à política comercial norte-americana. Para esse analistas, os preços do petróleo devem subir e as economias globais devem tremer com o impacto. As ações globais podem sentir o efeito, enquanto o dólar deve cair ante o euro e o iene. "Trata-se de uma situação inédita e não podemos adivinhar que outras medidas serão necessárias´, disse o ministro da fazenda, Francisco Gil Díaz à imprensa, depois de informar que a Bolsa de Valores do México permanecerá fechada hoje. Isso não deve alterar, porém, os negócios no mercado de câmbio. Para ele, o sistema de livre flutuação no país permitirá amortecer a volatilidade que eventualmente poderia ocorrer nos próximos dias.

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