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Embargo à carne brasileira

Funcionário chinês garante que razões técnicas e comerciais estão causando a suspensão da compra

colunista convidado
Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

O embargo da carne brasileira é a maior crise nos 47 anos de relações comerciais com a China. Fontes chinesas e brasileiras que acompanham a questão muito de perto me garantem que as razões são técnicas e comerciais, embora fatores políticos retardem a solução: a transição de governo na China, a hipersensibilidade a problemas sanitários e a falta de empatia entre os presidentes dos dois países.

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“O embargo da carne é uma questão técnica e há muitos detalhes envolvidos”, me disse um funcionário chinês. “Além de informações sobre os dois casos (de mal da vaca louca) registrados em setembro, é importante também saber os procedimentos do lado brasileiro para tratar os casos.” E concluiu: “Já recebemos quase todas as informações necessárias do lado brasileiro e creio que teremos novidade em breve”.

Exigências 

Uma fonte brasileira em Pequim me disse que a China achou “estranho” o Brasil ter dois casos atípicos ao mesmo tempo, um em Minas Gerais e outro no Mato Grosso. “Atípico” significa de origem degenerativa, problema com célula de animal mais velho, e portanto não contagioso. 

Carne à venda em supermercado brasileiro; embargo da China ao produto é a maior crise nos 47 anos de relações comerciais entre os dois países Foto: Wilton Junior/ Estadão

Essa fonte me confirma que as razões do embargo são técnicas: a China considera as respostas do Brasil insuficientes. “Os chineses estão especialmente exigentes e rigorosos porque é momento de transição em vários cargos em vários setores e de muita preocupação com as questões sanitárias pelo fato de o coronavírus ter surgido aqui”, disse ele. 

O presidente chinês, Xi Jinping, vai emplacar um terceiro mandato a partir do fim de 2022, mas funcionários dos escalões inferiores serão trocados.

Competição

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Às vezes, os chineses fazem uma pergunta e os brasileiros reagem dizendo que já responderam, ou que não abrem essas informações para ninguém. Noutras vezes, a transparência do Brasil atrapalha. Por exemplo, em relação à destinação da graxaria, os resíduos do boi. Se eles se misturam à ração, podem causar o mal da vaca louca. Perguntaram qual o escape em determinados matadouros. A resposta veio: 10%. Os chineses queriam zero, o que não existe.

Além disso, o interesse chinês em comprar carne brasileira diminuiu juntamente com o preço da carne suína chinesa, à medida que o país vem superando a peste africana, que dizimou o rebanho. E os chineses ainda têm de comprar mais carne americana para cumprir os acordos firmados com o ex-presidente Donald Trump. 

Os EUA são o único país que consegue novas certificações de frigoríficos por parte da China. O embargo da China, o maior importador da carne brasileira, causou em outubro queda de 43% no volume ante o mesmo mês de 2020. 

*É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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