Empreender na Venezuela, um trabalho para 'heróis' com muita criatividade

Em meio à severa crise de escassez de produtos de primeira necessidade que inclui alimentos, remédios e outros artigos básicos enfrentada pelo país caribenho, pequenos empresários precisam ser 'criativos' para obterem sucesso nos negócios

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Por Redação
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CARACAS - Diversos são os pequenos negócios na Venezuela que fecharam suas portas pela crise econômica que assola o país, mas no meio desta mesma situação surgiram projetos de empreendedores que chegaram ao sucesso graças à criatividade e ao esforço "heroico" de seus criadores.

Segundo o diretor da rede de empreendimento Opción Venezuela, Félix Ríos, quem consegue empreender no país é uma espécie de "herói" porque requer muita criatividade "desenvolver um negócio" diante de todas as dificuldades que estão afetando os cidadãos venezuelanos. No entanto, Ríos destacou que, apesar das adversidades, vários negócios obtiveram sucesso.

Funcionário da empresa venezuelana Suma Deportes caminha ao lado da piscina desta pequena escola de natação; apesar do sucesso do negócio, os donos precisam se adaptar aos desafios diários em razão da crise no país Foto: EFE/MIGUEL GUTIÉRREZ

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Segundo o Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA), mais de dois milhões de pessoas por ano tentam empreender na Venezuela, mas desse número apenas 10% consegue se manter por mais de três anos.

Um exemplo de negócio bem-sucedido é o de Judith Suniaga e Héctor Manzanillo, que têm uma pequena empresa que leva o nome de Suma Deportes, um projeto que surgiu da necessidade de reconstruir um lugar abandonado e da oportunidade que se apresentou para isso. Trata-se de uma escola de natação que inclui um pequeno restaurante e oferece diversão e um ambiente para a família.

De acordo com Judith, o projeto começou sem capital suficiente, pois só contavam com suas economias. No entanto, os donos decidiram encarar o desafio porque "em uma economia mais normal teriam pedido muito mais currículo, muito mais garantias, declarações, e aqui pedem muito menos que isso".

"Todo mundo fala do quanto é difícil empreender aqui (na Venezuela), mas também é certo que nós, pelo menos nós, nas condições que fizemos, não teríamos conseguido fazer em outro lugar. Nós fizemos sem dinheiro, sem capital, e conseguimos fazer porque é aqui", ressaltou a empreendedora.

Para assumir a manutenção da piscina, a única alternativa que a Suma Deportes tem é pagar o custo dos produtos de limpeza pelo preço que conseguirem, mas para a oferta gastronômica, quando não têm algum prato, tentam compensar com um melhor serviço e um melhor atendimento.

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Diante da variação de preços no país e da escassez de produtos de primeira necessidade, nem sempre o restaurante da escola de natação consegue oferecer todos os produtos do cardápio Foto: EFE/MIGUEL GUTIÉRREZ

Vale lembrar que a Venezuela atravessa uma severa crise de escassez de produtos de primeira necessidade que inclui alimentos, remédios e outros artigos básicos. Em meio ao problema de escassez e desabastecimento alimentício, os representantes da Suma Deportes fizeram com que o restaurante não fosse a "âncora" do negócio, "mas sim um serviço que oferecemos", apontou Judith.

O segredo para empreender na Venezuela, segundo diz, é "ser sempre engenhoso, criativo, adaptável e flexível às mudanças", pois trata-se de um país onde "as condições sempre mudam" e os "processos são dinâmicos".

No entanto, para Luisa Lopenza, criadora da Chili Cakes, a perspectiva é diferente, pois seu negócio tem a ver com alimentos. Luisa assegura que sobrevive na economia venezuelana nadando contra a corrente, já que comprar um bolo de aniversário "se tornou um luxo" no país.

"Há quem possa pagar por uma torta, mas há quem não possa se dar a esse luxo", contou. A empresária explicou que com a alta de preços dos produtos básicos para estabelecimento, como manteiga, farinha e açúcar, está cada vez mais difícil estabelecer um preço de venda acessível ao consumidor.

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Além dos preços que sobem "diariamente", é difícil conseguir a matéria-prima e os materiais para entregar e decorar o produto final.

Depois de se surpreender por encontrar açúcar a um preço de 9 mil bolívares (US$ 13 na taxa oficial), Luisa tomou a "difícil" decisão de se mudar para Buenos Aires, com o desejo de poder estabelecer seu projeto na capital argentina.

Apesar de já ter deixado a Venezuela, seu negócio ainda não fechou as portas por lá, embora seja cada vez mais complicado manter a empresa no país se o cenário de desabastecimento e escassez não mudar. "Tentamos ajustar os preços e oferecer outras coisas que sejam acessíveis para as pessoas", acrescentou Luisa ao assegurar que tem vontade de continuar com seu projeto na Venezuela, "mas que existem muitas dificuldades, como a falta dos ingredientes", e é exatamente por isso "que muitos jovens abandonaram seus projetos". / EFE

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