
10 de março de 2020 | 16h00
CIDADE DO MÉXICO - A Venezuela trocou milhões de barris de petróleo por cargas de milho e caminhões de água em um acordo com a empresa mexicana Libre Abordo S.A em um esforço para assegurar as importações em meio ao recrudescimento das sanções impostas pelos Estados Unidos, de acordo com a empresa e com dados de exportação do governo.
A empresa mexicana de capital privado não tinha experiências anteriores no setor de petróleo e surgiu como um importante comprador de petróleo da Venezuela em um momento em que a estatal de petróleo PDVSA viu seu portfólio de clientes diminuir devido a sanções destinadas a derrubar o presidente Nicolás Maduro.
Afundada em anos de hiperinflação, recessão econômica e fome, a Venezuela tem lutado para pagar importações de tudo - de alimentos a suprimentos médicos. Milhões de venezuelanos emigraram em meio à escassez generalizada.
A Libre Abordo recebeu 6,2 milhões de barris de petróleo venezuelano para revenda nos mercados internacionais. Ainda há duas cargas de petróleo e combustível para serem carregadas este mês, de acordo com os programas de exportação da PDVSA.
Em comunicado enviado à agência Reuters, a Libre Abordo informou que assinou um contrato no ano passado para exportar caminhões de milho e água mexicanos para a Venezuela em troca de suprimentos de petróleo. Também afirmou que o contrato ainda estava em vigor e que consultou advogados sobre a transação. A companhia foi avisada de que não houve violação das sanções dos EUA, pois não havia pagamentos em dinheiro envolvidos, já que o óleo foi recebido para compensar a ajuda alimentar.
"A aquisição da Libre da titularidade da carga da PDVSA em satisfação das obrigações de dívida pré-existentes ocorreu inteiramente fora da jurisdição de sanções dos EUA", disseram os advogados em análise enviada para a empresa e compartilhada com a Reuters. O departamento do Tesouro dos EUA, PDVSA e o governo venezuelano não responderam aos pedidos de comentário.
O contrato entre os proprietários mexicanos de Libre Abordo - Olga Zepeda e Veronica Esparza - e o governo venezuelano entrou em vigor no ano passado e nenhum intermediário foi usado nas negociações, informou a empresa. "Não são contratos de compra e venda. O contrato é considerado como ajuda humanitária".
Não há um prazo final para que novos produtos sejam trocados, disse a Libre Abordo. A empresa ainda afirmou que espera concluir a entrega de 210 mil toneladas de milho e de mil caminhões de água nos próximos meses, enquanto segue recebendo petróleo em troca.
As cargas de petróleo recebidas são revendidas imediatamente e os compradores tomam posse delas nos portos da PDVSA sem nenhuma informação fornecida à Libre Abordo sobre o destino ou uso final, informou a empresa.
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