PUBLICIDADE

Encruzilhada política desafia futuro iraniano

Por Robin Wright
Atualização:

Muita coisa mudou no Irã em apenas um mês. A imprevisível revolta popular está se tornando tão importante quanto a Revolução Islâmica, 30 anos atrás, não apenas para o Irã, mas para todo o Oriente Médio. Um dia antes da eleição presidencial de 12 de junho, o Irã sentiu-se poderoso como nunca. Teerã não só tinha sobrevivido a três décadas de isolamento diplomático e sanções econômicas, mas surgia como superpotência regional. No entanto, no dia seguinte à eleição, o Irã jamais pareceu tão vulnerável. Na última reunião de cúpula do G-8 (sete países mais ricos do mundo mais a Rússia), na Itália, na semana passada, o presidente americano, Barack Obama, chamou a atenção para a "vigorosa condenação do G-8 ao tratamento atroz dado aos manifestantes que protestaram pacificamente após a eleição no Irã". A revolta transformou o panorama político em Teerã, até que, no mês passado, dezenas de facções políticas distintas aglutinaram-se em dois campos: a nova direita e a nova esquerda. O núcleo da nova direita é formado por uma segunda geração de revolucionários, que passaram a controlar os instrumentos de segurança e estão afastando cada vez mais os mais velhos. A nova esquerda é uma coalizão de grupos com interesses variados, mas que se uniram na cólera pós-eleitoral. O nome vem do candidato de oposição Mir Hossein Mousavi, considerado um político de esquerda nos anos 80, quando foi primeiro-ministro. A organização, os instrumentos e a estratégia da nova esquerda são frágeis, mas esta é a mais vasta coalizão desde a Revolução Islâmica de 1979. Ela é formada por ex-presidentes, ministros e membros do Parlamento, além de mulheres politicamente ativas no mundo islâmico, executivos de empresas e trabalhadores prejudicados pela inflação. O que era uma divisão política transformou-se num cisma. Muitos líderes iranianos estiveram detidos juntos nas prisões do xá Reza Pahlevi, mas hoje sua visão da República Islâmica diverge de maneira tão drástica que uma reconciliação é impossível. O que vai ocorrer no futuro será determinado por três fatores: liderança, unidade e momento. Liderança é o fator mais vulnerável da oposição. A grande pergunta - que ainda não tem resposta - é se Mousavi, um político sem carisma, pode liderar a nova oposição iraniana no longo prazo. Mousavi foi um líder acidental do movimento de reforma, mais um produto do sentimento público do que um criador dele. Sem uma direção dinâmica, a oposição pode começar a olhar para outros lados. O regime é mais vulnerável em questão de unidade. Muitos empregados do governo, incluindo funcionários públicos e membros do Exército, vêm se queixando da teocracia rígida. Em 1997, em uma pesquisa feita pelo governo, 84% dos membros da Guarda Revolucionária, que inclui muitos jovens prestando o serviço militar, votaram em Mohammad Khatami, o primeiro presidente reformista. O momento pode ser o fator decisivo. O regime vai ter de desviar a atenção pública para a agenda no segundo mandato do presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad. Embora culpe os países estrangeiros pelos protestos, ele poderá se concentrar nos objetivos internacionais ou regionais para conquistar a legitimidade que sua presidência não consegue internamente. Para a oposição, o calendário dos ritos xiitas, as comemorações persas e as datas revolucionárias são ocasiões propícias para manifestações. A oposição também tem partidários no Parlamento, que devem contestar as nomeações de Ahmadinejad para o gabinete. Novas prisões e julgamentos também vão reacender as tensões. A cada faísca, a imagem do governo fica mais manchada e a sua legitimidade corroída. *Robin Wright é escritor e membro do Woodrow Wilson International Center for Scholars

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.