CARACAS - Quando a foto de uma menina venezuelana começou a circular na internet na semana passada, a reação foi quase instantânea. Ela tem 2 anos de idade, mas a desnutrição e algumas doenças não tratadas reduziram drasticamente o corpo dela.
Anailin Nava passa os dias deitada na casa dilapidada da família. Quando a foto dela foi visualizada em uma reportagem do New York Times sobre o colapso econômico na Venezuela, muitos leitores tiveram o mesmo impulso: ajudar o país da menina a sair de uma crise humanitária pode ser difícil, mas com certeza há algo que possa ser feito por essa criança.
No domingo, 19, a ajuda começou a chegar. A escassez de gasolina prejudicou grande parte da Venezuela, mas Fabiola Molero, de 43 anos, uma enfermeira que integra a organização Caritas, ligada à Igreja Católica, preparou uma mala com uma balança e suplementos nutricionais para 15 dias, leite e alimentos, e rumou da cidade de Maracaibo para a Ilha de Toas, onde Anailin mora.
Fabiola trabalha há 20 anos como enfermeira em hospitais públicos, mas há três anos ela deixou o emprego e se tornou voluntária no Caritas para tentar ajudar a combater a fome que tem devastado a Venezuela.
“Eu trabalhava em um hospital e saí porque não podia suportar o fato de que as crianças estavam morrendo nos meus braços por falta de comida”, contou ela. Quando Fabiola partiu no domingo, o objetivo dela era ajudar Anailin e avaliar a condição de outras crianças da mesma comunidade.
O Estado de Zulia, do qual Toas faz parte, tem sido particularmente atingido pelo colapso econômico do país. A ilha ficou praticamente isolada do continente depois que os barcos que serviam como transporte público quebraram em razão da falta de peças de reposição.
Sacolas de alimentos subsidiados pelo governo chegam a cada cinco meses, mas são consumidos pelas famílias em menos de uma semana, de acordo com a mãe de Anailin, Maibeli Nava, e os vizinhos.
Fabiola disse que o caso de Anailin é um dos piores que ela já viu. A família normalmente não consegue arcar com mais de uma refeição para ela por dia - algumas vezes a menina conta apenas com arroz e fubá para comer.
O caso da severa desnutrição de Anailin é agravado por uma doença neurológica genética, que desencadeia convulsões e problemas musculares e acarreta dificuldades de digestão, afirmou a enfermeira.
Dificuldades diante da desnutrição
Anailin, que pesa metade do que deveria, está muito fraca para viajar, segundo Fabiola. Mas ela pode receber tratamento em casa até que esteja forte o suficiente para ser levada a um neurologista.
“Minha filha tinha piorado e estava em uma situação muito grave”, disse Maibeli. “Pensei que ela iria morrer. Ela nem sequer me estendia a mão quando eu tentava brincar com ela.” A chegada da enfermeira e dos alimentos teve um efeito imediato. “Agora ela está mais bem disposta”, contou a mãe.
Fabiola contou que sua chegada fez com que os vizinhos, entre eles mães e idosos da região, se aglomerassem em frente à casa de Maibeli, em uma das aldeias de pesca de Toas. “Eles queriam pedir ajuda”, explicou a mãe de Anailin. A crise econômica deixou a ilha sem suprimentos médicos, mesmo contando com dois hospitais e três clínicas públicas de primeiros socorros.
Toas costumava ser um destino turístico, mas a deterioração da economia e da infraestrutura do país o transformou em uma região marcada pelos frequentes e prolongados apagões nos serviços de eletricidade e celular. “Estou preocupada porque há muitas mulheres grávidas e o hospital não está funcionando”, disse Fabiola.
Dentre as 26 crianças avaliadas pela enfermeira, 10 estão desnutridas. Quase todas elas têm bolhas e abscessos na pele causados pela qualidade precária da água. A usina de dessalinização da ilha está fora de operação há anos. “A condição de nossas crianças piora a cada dia”, relatou Fabiola.
Outros voluntários que atuam com ela planejam uma visita médica à ilha para levar suplementos nutricionais e avaliar outras 40 crianças. A enfermeira afirmou que a escassez de produtos diários, os quais costumavam chegar do continente, realmente prejudica os menores. Sem leite, as famílias mais vulneráveis estão recorrendo ao pó de banana para fazer comida para bebês.
A falta de gasolina torna ainda mais difícil a entrega de ajuda. “Estamos trabalhando com a força de nossas unhas aqui porque mal temos recursos”, lamentou a enfermeira. / NYT