Entenda a violência no Paquistão e no Afeganistão

Países sofrem com ofensivas contra militantes islâmicos radicais do Taleban e da Al-Qaeda

PUBLICIDADE

Por BBC Brasil
Atualização:

Nos últimos anos, tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão e o Exército no Paquistão vêm lutando contra militantes da Al-Qaeda e do Taleban que atuam na região. A comunidade internacional, entretanto, viu a violência em ambos os países aumentar nos últimos meses. No Paquistão, o Exército lançou uma nova ofensiva contra os militantes na região da fronteira afegã. Paralelamente, atentados atribuídos ao Taleban vêm sendo registrados nas principais cidades do país. No Afeganistão, as eleições presidenciais realizadas em agosto foram boicotadas pelo Taleban, que também foi acusados de realizar uma série de ataques contra as forças da Otan. O número de soldados americanos mortos no Afeganistão em outubro já é o maior desde 2001. A BBC preparou uma lista de perguntas para ajudar você a entender as dificuldades de combater os extremistas, e o que está em jogo. Por que há conflitos nos dois países? Há alguma ligação entre eles? A coalizão liderada pelos EUA invadiu o Afeganistão em outubro de 2001, argumentando que o país estava dando refúgio ao líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, depois de os atentados de 11 de Setembro. Até esse ano, o Afeganistão era governado pelo Taleban - um grupo fundamentalista islâmico acusado de abusos dos direitos humanos. Desde o princípio, as forças da coalizão pediram ajuda do Paquistão para tentar combater os insurgentes, em uma tentativa de acabar com qualquer esconderijo para os militantes. Quando ficou claro que nem Bin Laden nem o líder do Taleban, Mulá Omar, haviam sido mortos ou capturados, aumentou a pressão para que o Paquistão expulsasse os militantes de suas áreas de fronteira. Desde então, o Exército paquistanês vem lançando ofensivas contra as posições militantes, ao mesmo tempo em que fecha controversos acordos de paz. Os americanos, em particular, se opõem a esses acordos, argumentando que eles permitem aos militantes se reagrupar. A última dessas ofensivas começou no fim do ano passado, depois da eleição do presidente Asif Ali Zardari. O Paquistão agora está focando suas atividades contra os militantes na fronteira entre o país e o Afeganistão. O mundo tem motivos para se preocupar com a violência nos dois países? Há um consenso quase universal quanto a isso, e a resposta é sim. A principal preocupação é pela segurança das armas nucleares do Paquistão que, teme-se, poderiam cair nas mãos da Al-Qaeda ou do Taleban. A maioria dos analistas, porém, concorda que a possibilidade é remota. Alguns acreditam que o risco está sendo exagerado por Washington para obter apoio à política do governo de Barack Obama para o Afeganistão e o Paquistão. Para o analista Mark Urban, o perigo real é que um ou mais indivíduos ligados ao programa nuclear paquistanês forneçam material nuclear ou até uma arma atômica aos militantes. Também teme-se que a Índia se envolva no conflito contra os militantes - especialmente em território paquistanês - se houver uma repetição de ataques como os de novembro de 2008 em Mumbai, atribuídos a extremistas operando do Paquistão. Tanto a Índia como os EUA suspeitam que escolas religiosas (madrassas) dominadas por radicais no Paquistão estejam exportando militantes para todo o mundo. O que está sendo feito para combater os militantes? Além da ofensiva do Exército paquistanês em regiões da província da Fronteira Noroeste (na fronteira afegã) - onde os militares retomaram o controle do Vale do Swat em abril deste ano - e nas áreas tribais administradas pela Federação, nos últimos anos os americanos vêm usando controversos ataques aéreos com aviões não-tripulados contra alvos militantes no Paquistão e Afeganistão. Vários civis morreram nos ataques, provocando críticas aos americanos. O presidente Obama já enviou mais 21 mil soldados americanos para o Afeganistão e há informações de que ele estaria considerando um reforço ainda maior. O comandante da Otan no Afeganistão, o general americano Stanley McChrystal, disse que é necessário um reforço de 40 mil soldados. O comandante ainda ressaltou que, para vencer a guerra no Afeganistão, desenvolver o país é quase tão importante quanto o conflito militar - e a proteção de civis tem que estar no centro da estratégia. Países do Ocidente já investiram bilhões de dólares no noroeste do Paquistão e no Afeganistão para a construção de escolas, hospitais e centros comunitários. O Paquistão está comprometido em derrotar o Taleban? O governo do Paquistão afirma que sim, e o Exército do país atualmente dá sinais de que apoia as autoridades nesse esforço. O líder do Taleban, Baitullah Mehsud, foi morto em agosto passado em um ataque americano. Em outubro, o Exército lançou uma ofensiva contra os militantes do Taleban leais ao seu sucessor, Hakimullah Mehsud, baseado no Waziristão do Sul (região na fronteira com o Afeganistão). Os combatentes de Mehsud foram responsabilizados pelos recentes atentados contra instalações militares no noroeste do Paquistão. Eles também são responsabilizados pela onda de atentados suicidas que atingiu o noroeste do Paquistão em outubro de 2009. Mas permanecem as dúvidas sobre a disposição do Exército em combater os militantes do Taleban que cruzam a fronteira para cometer atentados no Afeganistão. Acredita-se até que alguns elementos do Exército apoiem ativamente militantes combatentes no Afeganistão. Eles seriam vistos como um útil contrapeso ao que o Exército chama de crescente influência do país rival Índia sobre a Ásia central. O Paquistão pode derrotar os militantes? No momento, é difícil dizer. Até agora, os militantes parecem ter sido expulsos da maior parte da província da fronteira noroeste do Paquistão, inclusive do Vale do Swat, mas ainda estariam entrincheirados em áreas tribais. Mesmo que o Paquistão consiga remover os militantes de seus redutos no Waziristão do Sul, muitos afirmam que o verdadeiro desafio é garantir que o Taleban não retome sua posição na região. O terreno é de difícil acesso e ideal para guerra de guerrilha.

 

PUBLICIDADE

Qual o custo humano do conflito nos dois países? Mais de 100 mil pessoas deixaram o Waziristão do Sul nos dias que se antecederam à ofensiva militar. No Afeganistão, a ONU afirma que o número de civis mortos no conflito aumentou dramaticamente em comparação a 2008. A entidade afirma que 1.445 civis foram mortos de janeiro a agosto deste ano, um aumento de 39% em relação ao mesmo período no ano passado. E quem vai vencer? No curto prazo, nenhum dos lados em nenhum dos dois países devem clamar vitória. Recentemente, o ex-comandante da Otan no Afeganistão, general John Craddock, afirmou que a falta de soldados está aumentando a pressão sobre as operações militares e, em conseqüência, elas estão paralisadas no sul e leste do país, as áreas mais afetadas pela insurgência. Os comandantes da Otan esperam que o presidente Obama envie mais tropas para a região, uma vez que seja definido o resultado das eleições presidenciais afegãs, em sete de novembro. No Paquistão, o Exército continua a ofensiva no Waziristão, mas ela está restrita a certas áreas e certos grupos na região. Ninguém espera que os militantes sejam facilmente derrotados em sua própria terra.

 

BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.