
27 de junho de 2018 | 17h06
WASHINGTON - Para os partidários de Donald Trump, a decisão da Suprema Corte de sustentar a proibição que cidadãos de cinco países de maioria muçulmana viajem aos Estados Unidos foi uma afirmação do direito do território americano de proteger sua fronteira do terrorismo.
Imigrantes com filhos voltam a ser liberados
Para seus opositores, a decisão validou a agenda antimuçulmana que vai contra os ideais americanos, subverteu a Constituição e derrubou as esperanças de milhares de famílias separadas pela guerra e pobreza.
+ Perguntas e respostas: o processo jurídico em casos de imigração ilegal
+ Justiça valida decreto de Trump que proíbe entrada de viajantes muçulmanos nos EUA
Como a decisão afetaa Irã, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Síria, Venezuela e Iêmen:
A decisão manda uma mensagem brusca de rejeição aos requerentes de visto em alguns dos países mais pobres do mundo. Advogados de direitos civis e imigração temem que a regra feche a porta a pessoas desesperadas em países de maioria muçulmana, em particular aquelas que têm parentes nos EUA e viam a Suprema Corte como sua última esperança.
Três dos países de maioria muçulmana afetados pela ordem de Trump - Líbia, Iêmen e Síria - estão em guerra há anos. A Somália sofreu com a destruição por anos. Embora especialistas em antiterrorismo considerem que tais locais são áreas férteis para o surgimento de extremismo violento, a decisão da Suprema Corte não faz nada para acelerar o fim dos conflitos nestes locais.
E apesar de a ordem executiva de Trump permitir que exceções sejam concedidas, advogados disseram ter visto pouca ou nenhuma evidência disso. É o exemplo de centenas de famílias iemenitas com parentes americanos.
As pessoas fugiram do Iêmen para o Djibouti para pedir vistos americanos, já que a embaixada americana no Iêmen está fechada, mas tiveram seus pedidos negados e permanecem presas no país.
"Todos tinham esperanças para a decisão da Suprema Corte", disse a advogada Diala Shamas, do Centro de Direitos Constitucionais, grupo que enviou investigadores ao Djibouti e produziu um relatório sobre as famílias abandonadas no país. "Agora enfrentam a escolha difícil da separação permanente de suas famílias ou do retorno ao Iêmen", explicou.
O ativista somali-americano Mohamud Noor, de Minneapolis, lar de uma das maiores comunidades de imigrantes somalis nos EUA, disse que a decisão da Suprema Corte foi devastadora para muitos que queriam que seus parentes na terra natal se juntassem a eles legalmente no território americano.
O país de maioria muçulmana que enfrenta o maior transtorno é o Irã, que lidera no número de vistos para não-imigrantes aos EUA entre os países afetados pelo veto, apesar das relações diplomáticas complicadas com os EUA desde a Revolução Islâmica de 1979.
Estimativas apontam que um milhão de cidadãos americanos descendentes de iranianos vivem nos EUA e muitos viajam ao Irã para visitar suas famílias. Mas agora é difícil saber como seus parentes que moram no Irã poderão visitá-los.
O medo surgiu pela primeira vez na comunidade iraniana-americana com o primeiro veto de Trump, há 18 meses, que resultou em caos por sua aplicação desorganizada, e foi bloqueado pelos tribunais.
A angústia voltou com a última versão da ordem executiva, agora validada pela Suprema Corte, como disse o vice-presidente de política do Conselho Nacional Iraniano-Americano, Jamal Abdi. "Os iranianos não podem viajar para cá a menos que tenham um visto. E o processo para visto é imprevisível, não há explicação de como será implementado", disse.
O impacto deve enfurecer mais ainda os opositores de Trump, que tem isolado Irã. O país já sente os efeitos negativos da decisão de Trump de retirar os EUA do acordo nuclear de 2015 e reimpor as sanções econômicas que penalizam empresas que fizerem negócios com o país.
Os efeitos práticos sobre as duas nações não-muçulmanas no veto são mínimos, o que fortalece o argumento dos críticos de que a regra tem como alvo a população muçulmana.
As restrições aos venezuelanos se aplicam apenas a uma categoria restrita de funcionários do governo de Nicolás Maduro: os considerados responsáveis por não cooperar com o Departamento de Segurança na identificação de requerentes de visto que apresentem risco à segurança americana.
E embora as restrições aos norte-coreanos se apliquem à toda a população, quase nenhum cidadão da Coreia do Norte tem autorização do governo para viajar aos EUA.
"A maioria das pessoas esqueceu que a Coreia do Norte foi adicionada à lista de países sujeitos à proibição, principalmente como uma forma de fazer com que pareça menos uma medida anti-muçulmana", disse o ex-diplomata do Departamento de Estado, Evans Revere, especialista em Coreia do Norte.
Para o professor de estudos coreanos Sung Yoon-lee, da Universidade de Tufts, "a inclusão da Coreia do Norte provavelmente será revertida pela administração" e usada como moeda de troca para avançar na reaproximação entre os dois países. / NYT
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.