TBILISI - A Geórgia enfrentou o quinto dia consecutivo de protestos nesta segunda-feira, 24. Milhares de pessoas se concentraram em frente ao parlamento, reinvindicando uma reforma política no país, a soltura de manifestantes detidos nos dias anteriores e a renúncia do líder do partido no poder, Sonho Georgiano, o bilionário Bidzina Ivanishvili.
Apesar de Ivanishvili, considerado aquele que comanda a Geórgia, ter prometido nesta segunda "uma reforma política de grande alcance" eleitoral para as eleições legislativas de 2020, os manifestantes voltaram às ruas.
A oposição defende que o atual sistema político georgiano, que funciona por meio de um patamar mínimo por partido para que os integrantes cheguem ao Parlamento, favorece o partido liderado pelo bilionário, no poder desde 2012. Os manifestantes pedem eleições legislativas antecipadas. Ivanishvili prometeu o fim do patamar mínimo, mas não foi o suficiente.
A tensão entre a população e o Parlamento começou na quinta-feira, 20, depois o que deputado russo Serguéi Gavrilov encaminhou o evento internacional da Assembleia Interparlamentária sobre Ortodoxia, ocorrido em Tbilisi. Ele falou no parlamento do lugar destinado ao presidente da assembleia.
Com isso, a oposição convocou uma manifestação e levou cerca de 10 mil pessoas às ruas, que romperam o cordão policial para entrar no parlamento para exigir a renúncia do presidente da legislatura. Por volta da meia-noite, a polícia lançou gás lacrimogêneo contra a multidão, e só parou quando muitos dos manifestantes deixaram o local. De acordo com um assessor do primeiro-ministro, Mamuka Bakhtadze, os distúrbios deixaram um saldo de 39 policiais e 30 manifestantes feridos.
A ONG Human Rights Watch denunciou as ações da polícia contra uma multidão "não-violenta". A Anistia Internacional pediu uma "investigação séria". A repressão no primeiro dia dos protestos também levou os manifestantes a pedirem a renúncia do ministro do Interior, Giorgi Gakharia responsável por comandar a polícia.
O ato levou à renúncia, na sexta-feira, do presidente do parlamento, Irakli Kobajidze, também membro do Sonho Georgiano, responsável por "ceder" o seu lugar ao deputado russo. Pelo menos 8 mil pessoas responderam ao chamado da oposição para os protestos na sexta. Alguns tinham um olho enfaixado em apoio aos manifestantes que ficaram feridos no dia anterior nos incidentes com a polícia.
Por que a revolta?
O fato de um deputado russo ter falado na Assembleia de um lugar de poder choca os georgianos. A Geórgia, ex-membro da União Soviética, ainda tem grande influência russa. Duas regiões separatistas da Prússia georgiana têm o apoio e reconhecimento dos russos, que mantêm ali tropas militares. A Ossétia do Sul e a Abkházia juntas correspondem a 20% do território da Geórgia.
Em agosto de 2008, o exército russo agiu após as forças georgianas terem iniciado um sangrenta operação militar na Ossétia do Sul. Em apenas cinco dias, as forças de Moscou derrotaram o exército georgiano e ameaçaram tomar a capital, Tbilisi.
Essas mobilizações, que chegaram a reunir cerca de 10 mil pessoas, resultaram em confrontos, que deixaram 240 feridos - 160 manifestantes e 80 policiais -, segundo as autoridades.
Após gestões diplomáticas do então presidente francês Nicolas Sarkozy, cujo país presidia à época a União Europeia, Geórgia e Rússia assinaram um acordo de paz que permitiu a retirada das tropas russas.
O destaque dado a um russo na assembleia reviveu o conflito após mais de uma década, se transformando em um movimento mais global contra o domínio na Geórgia do partido Sonho Georgiano.
Manifestantes seguraram cartazes com os dizeres "Eu sou da Geórgia e meu país é controlado pela Rússia".
Com o novo conflito, as companhias aéreas russas não poderão voar para a Geórgia a partir de 8 de julho, segundo um decreto assinado na sexta-feira, 21, pelo presidente Vladimir Putin.
"A partir de 8 de julho de 2019, as companhias aéreas russas estarão proibidas temporariamente de efetuar voos do território da Federação Russa para o território da Georgia", afirmou o decreto publicado no site do Kremlin. / AFP e EFE