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Entre a lei e a urna

Entre os organizadores do plebiscito, alguns defendem que Puigdemont promulgue uma declaração unilateral de independência no dia 2

Por THE ECONOMIST
Atualização:

Para explicar a posição do governo da Espanha em relação ao plebiscito catalão, uma importante autoridade espanhola citou recentemente o cantor Sting: “Every step you take, I’ll be watching you” (“Cada passo que você der, estarei de olho em você”).

E assim tem sido. A poucos dias da consulta, que contraria a Constituição do país, o clima na Catalunha é de tensão. Mas o governo espanhol está confiante de que já conseguiu evitar a realização de qualquer coisa semelhante ao pleito com efeitos “compulsórios” prometido pelo presidente da Catalunha, Carles Puigdemont.

Plebiscito da Catalunha, um dos motores econômicos da Espanha, preocupa o governo do país. Foto: Albert Gea/Reuters

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O máximo que acontecerá, prevê outra autoridade madrilena, é um exercício informal, em que alguns votos serão depositados em urnas improvisadas.

O governo conservador de Mariano Rajoy recorreu à Justiça para obstruir os preparativos do plebiscito. Um procurador de Barcelona determinou a prisão de importantes autoridades catalãs (que depois foram soltas) e a apreensão de 9,8 milhões de cédulas eleitorais. A Generalitat ( governo catalão) dissolveu o comitê eleitoral que havia formado para organizar o pleito, após a Suprema Corte da Espanha ameaçar seus integrantes com multas diárias de € 12 mil (R$ 45 mil) cada. 

Por enquanto, as manifestações atraíram apenas alguns milhares de pessoas. Entre os organizadores do plebiscito, alguns defendem que Puigdemont promulgue uma declaração unilateral de independência no dia 2. Mas o líder catalão não parece disposto a ir tão longe. Segundo ele, a decisão caberia ao Parlamento da região.

Na ausência de uma maioria claramente favorável à independência da Catalunha, o governo de Puigdemont promove uma guerra de propaganda, pintando o Estado espanhol como repressivo e antidemocrático. Fotos com filas de eleitores impedidos de votar reforçariam essa imagem.

Um dos principais alvos da Generalitat é a opinião pública internacional. As autoridades catalãs já abriram dez “embaixadas” no exterior e pretendem ampliar esse número. Apesar disso, os únicos líderes estrangeiros que manifestaram apoio ao plebiscito foram Nicolás Maduro, da Venezuela, e Nicola Sturgeon, da Escócia.

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Na Europa, ouvem-se queixas de que Rajoy está sendo muito duro. Mas a nenhum governo interessa estimular o separatismo – na Espanha ou onde quer que seja. A Comissão Europeia repetiu o anúncio de que a Catalunha seria excluída da UE caso se separasse da Espanha. O chanceler espanhol, Alfonso Dastis, diz estar satisfeito com as manifestações de apoio que tem recebido. Até Donald Trump se colocou ao lado de Madri.

Segundo Puigdemont, a Generalitat “ampliou o nível de conhecimento sobre o que está acontecendo na Catalunha”. Seus esforços são direcionados a parlamentares e jornalistas estrangeiros, mais do que a autoridades governamentais. Os catalães adotam uma estratégia de longo prazo para conquistar opinião pública internacional. Rajoy talvez esteja vencendo a batalha jurídica mais imediata, mas a disputa política sobre a Catalunha está longe do fim. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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