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'Entre o carinho e o rechaço, encontrei o direito de expressão'

Por FEIRA DE SANTANA (BA)
Atualização:

Yoani Sánchez começou ontem no Brasil a viagem que pretende fazer por mais de dez países arrastando apenas uma pequena e gasta mala de rodinhas com o logotipo de seu blog, Generación Y, desenhado por um amigo grafiteiro de Havana. Usa brincos feitos de prata peruana "por uma leitora" com os mesmos símbolos. A seguir, trechos da entrevista concedida ontem ao Estado.Quais foram suas primeiras impressões sobre o Brasil?Estou há 48 horas sem dormir. Por isso, todas as impressões estão perpassadas pela euforia da viagem. Surpreendeu-me como somos parecidos. Olhando a paisagem e as pessoas, parece que estou em Havana. Surpreendeu-me também o afeto e a virulência de quem me recebeu negativamente. De qualquer maneira, a intensidade sempre causa impacto. Por outro lado, tratando de ser justa, entre esses dois extremos - o carinho e o rechaço -, encontrei o direito de expressão. A liberdade de expressão é a grande diferença entre Brasil e Cuba?Ainda não tive tempo para tirar conclusões. Preciso caminhar pelas ruas, falar com as pessoas. É muito cedo. Em geral, sempre critico os que vão a Cuba e, depois de duas semanas em um hotel, tiram conclusões e explicam para mim como é o meu país. Então, não vou cair nesse erro no Brasil, que é um país muito maior e mais complexo. Mas tenho me lembrado muito da frase de um amigo: "Os brasileiros são como os cubanos, mas são livres". Evidentemente, há mais respeito, que não é total, mas há mais respeito, mais liberdade. Por aí, se vê parte da alma.Como assim?Nós, cubanos, nos tornamos muito sóbrios, escondidos dentro de nós mesmos. Sempre há um temor de que o vizinho te denuncie. Isso vai contra a própria identidade nacional, que é a de viver com as entranhas abertas, de falar sobre tudo. Noto que os cubanos estão muito apagados. O que tenho aprendido com os brasileiros é como voltar a ser assim.A diferença tecnológica chamou sua atenção?Sim, isso me dá até vertigem. Quando passei pelo aeroporto do Panamá, me dei conta de que estava dez anos atrás. Não só pelos artigos tecnológicos, mas também pelo uso da tecnologia e pelo papel que ela assume na vida das pessoas. Vejo todos com celulares, obtendo informação pelo iPad em redes Wi-Fi. Isso me surpreende, pois na última vez em que estive fora de Cuba (de 2002 a 2004), as redes sociais não tinham essa intensidade. Gostei disso. Ainda não pude aproveitar muito, mas espero ter alguns momentos diante do computador e navegar livremente. / G. R.

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