Entrevista: 'Acabar com fome e desnutrição no mundo é promover a paz'

Para diretor regional do braço humanitário da ONU contra a fome no mundo, prêmio dá visibilidade ao problema global

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Por Paulo Beraldo
Atualização:

O Prêmio Nobel da Paz para o braço humanitário da ONU contra a fome no mundo, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) dá visibilidade ao problema global e lembra que reduzir a insegurança alimentar é trabalhar pela paz, avalia o diretor regional para a América Latina e Caribe do PMA, Miguel Barreto

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Qual a importância do reconhecimento com o Nobel da Paz para o trabalho do PMA?

É um reconhecimento mundial do trabalho dos funcionários do PMA que colocam suas vidas em risco para levar alimentos a mais de 100 milhões de pessoas, particularmente mulheres e crianças. Somos a maior agência humanitária do mundo, com presença em mais de 80 países, lidamos com pessoas que sofrem por conflitos, mudanças climáticas, falta de acesso a alimentos. E, além do nosso trabalho, é um reconhecimento dos milhões de pessoas que sofrem por fome e desnutrição. A paz não é somente um mundo livre de conflitos, é um mundo livre de fome e de desnutrição. Não somente porque é uma luta ética, mas porque é a única maneira de prevenir maiores migrações, reduzir a insegurança e promover a possibilidade de que as pessoas possam se inserir adequadamente na sociedade. Esse assunto precisa estar na agenda pública. 

Miguel Barreto, diretor regional do PMA para América Latina e Caribe Foto: Alejandro Chicheri/WFP

O prêmio Nobel também é uma forma de ampliar a visibilidade de tema, em especial em regiões como a América Latina... 

Sem dúvida. Na América Latina, temos um papel de apoio e suporte em áreas como a preparação de respostas a emergências, à rede de proteção social, às comunidades vulneráveis que sofrem de desnutrição, especialmente crianças que vão para escolas e recebem alimentos. Estamos em 12 países da região trabalhando com governos locais, sociedade civil e para colocar o tema da desnutrição e da fome no debate público. Esse prêmio constitui uma importante oportunidade para que percebamos que é importante estarmos juntos na luta contra a fome e a desnutrição. Essa luta é fundamental para o desenvolvimento dos países. 

O financiamento é um tema crítico para muitas agências da ONU. O prêmio também pode ajudar a angariar fundos para ações? 

Confiamos que este prêmio vai renovar a confiança dos doadores para seguirem trabalhando com o PMA. Essa confiança já cresceu muito nos últimos anos e fez com que sejamos a maior agência humanitária do mundo. Com nossos sócios, doadores e governos, nos comprometemos a seguir fazendo o que estamos fazendo e incrementar nossos esforços para seguir buscando a erradicação da fome e da desnutrição. Precisamos trabalhar juntos – governo, doadores internacionais, setor privado e sociedade civil. 

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Qual é o panorama atual da segurança alimentar após meses de pandemia? 

Desde a época da 2.ª Guerra, nunca tivemos tantas crises humanas. Essa pandemia não pode se converter em uma pandemia de fome na América Latina e Caribe. Estamos muito preocupados com o aumento da insegurança alimentar severa na região, o efeito socioeconômico da pandemia é terrível. É uma região em que temos muitos trabalhadores informais. Em um nível mundial, a quantidade de pessoas em insegurança alimentar severa pode superar 230 milhões em 2021. São pessoas que não têm o que comer no dia a dia. Essa crise afeta, em maior medida, populações de migrantes. São milhões na nossa região. O diretor executivo David Beasley falou sobre a pandemia de fome no Conselho de Segurança da ONU, da fome de proporções bíblicas, que haverá mortes por covid-19, mas também por falta de alimentos. 

Que dificuldades a pandemia impôs ao trabalho do PMA?

Foi de chegar aos beneficiários, principalmente com o fechamento de fronteiras. Mas conseguimos buscar modalidades inovadoras de como fornecer alimentos. 

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