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Entrevista de Meghan e Harry traz à memória as declarações da princesa Diana em 1995

Como Diana, Meghan entrou em uma família que não a entendia e acreditava que ela se conformaria, sem reclamar, aos costumes e protocolos reais

Por Sarah Lyall
Atualização:

Qualquer pessoa que se lembre do funeral de Diana, a princesa de Gales, em 1997, não pode deixar de ser assombrada pela visão angustiante de seus dois filhos, os príncipes William e Harry, caminhando lentamente atrás de seu caixão enquanto ele se dirigia à Abadia de Westminster. Cabisbaixos, ambos seguravam as próprias mãos à frente do corpo. Harry parecia tão pequeno em seu terno.

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Essa imagem reverberou ao longo dos anos, uma lembrança fantasmagórica da infância traumática dos príncipes, e pairou novamente em segundo plano enquanto o príncipe Harry e sua esposa, Meghan, conversavam com Oprah Winfrey na noite de domingo.

Enquanto os tabloides britânicos gostam de escalar Meghan para o papel de vilã, como se fosse a nova Duquesa de Windsor - a americana divorciada que seduziu o rei Eduardo VIII em 1936 e viveu com ele em um exílio amargo, causando uma rixa familiar irreparável - Harry e Meghan parecem determinados a posicioná-la em vez disso, como uma Diana moderna, uma mulher maltratada pela família do marido, menos culpada ou responsável do que outros que cometeram um erro.

Princesa Diana durante evento em Tuzla, na Bosnia, em 9 de agosto de 1997 Foto: Damir Sagolj/Reuters

Harry sempre falou com angústia e amargura em relação ao que aconteceu com Diana todos aqueles anos atrás, quando ela foi expulsa da família real após seu divórcio do príncipe Charles e mais tarde morreu em um acidente de carro em uma passagem subterrânea parisiense, enquanto era perseguida por paparazzi. Ele trouxe o assunto à tona novamente no domingo, traçando paralelos entre as experiências de sua mãe e sua esposa e dizendo, de Diana, que ele “sentiu a presença dela em todo este processo”.

Parecia shakespeariana, a percepção da história se repetindo por meio da estrutura imutável de uma linhagem real e uma instituição antiga - enquanto um príncipe falava em se libertar dos velhos padrões e encontrar um novo caminho a seguir.

Harry tornou a comparação explícita no domingo, quando se referiu à “enxurrada constante” de críticas e ataques racistas a sua esposa.

“O que eu estava vendo era a história se repetindo”, disse ele, embora tenha descrito o tratamento de Meghan como “muito mais perigoso” por causa da onipresença das redes sociais e do elemento corrosivo do racismo.

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Meghan Markle, esposa do príncipe Harry. Foto: Adrian DENNIS / AFP

As falas de Meghan na entrevista a respeito de sua saúde mental como uma esposa real, da solidão e desolação e pensamentos de suicídio fizeram lembrar do relato de Diana sobre a bulimia e a depressão que a consumiram durante seu próprio casamento. Ambas disseram que procuraram desesperadamente a ajuda da família, mas foram ignoradas e rejeitadas.

Há muitos paralelos entre Meghan e Diana.

Como Diana, Meghan entrou em uma família que não a entendia e acreditava que ela se conformaria, sem reclamar, aos costumes e protocolos reais. Como aconteceu com Diana, quando Meghan se mostrou incapaz ou sem vontade de se atrelar à linhagem familiar, segundo ela, o palácio não fez nada para desmentir a narrativa pública de que Meghan era exigente, petulante e não merecia um título de nobreza. E, como Diana, Meghan se viu perseguida pelos tabloides, que a acusavam de buscar constantemente atenção ao mesmo tempo em que preenchiam alegremente suas páginas com histórias sobre ela.

Mas também há diferenças, além do fato de que Diana era branca e Meghan ser negra, o fato de que o casamento de Diana chegou ao fim, enquanto Meghan tem um casamento forte e um defensor feroz, Harry.

A princesa Diana foi sepultada em uma cerimônia privada em Althorp, noroeste de Londres Foto: AP Photo/Herman Knippertz

Diana tinha apenas 20 anos e era superprotegida e ingênua quando se casou com Charles. Meghan tinha 36 anos, era experiente e bancava a si mesma há anos, quando se casou com Harry. Ela também era divorciada, com um trabalho de destaque como atriz.

Além disso, Meghan é americana e tem a sensibilidade típica dos Estados Unidos.

Diana veio de uma cultura reservada na qual a tradição é venerada. Meghan vem de uma em que é normal pedir ajuda, discutir seus sentimentos e sugerir que pode haver maneiras melhores e mais novas de se fazer as coisas.

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Mesmo assim, houve mais do que algumas alusões a Diana quando Meghan se sentou com Oprah para a entrevista. Meghan usava uma pulseira de diamantes que outrora fora de Diana. (A joia mais famosa de Diana, seu anel de noivado de safira e diamante, agora pode ser encontrada no dedo da esposa do príncipe William, Kate, a duquesa de Cambridge.)

Em seguida, houve a própria entrevista.

Príncipe Harry e Meghan Markle durante entrevista à apresentadora de Oprah Winfrey Foto: Joe PUGLIESE / HARPO PRODUCTIONS / AFP
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A ousada decisão de uma esposa da família real britânica de fazer críticas contra a família de seu marido em um especial televisionado foi uma reminiscência da entrevista de Diana em 1995 à BBC. Foi aquele em que, em tons sombrios, ela revelou que seu casamento sempre estivera condenado porque havia “três de nós” nele: ela, Charles e Camilla Parker Bowles, sua amante de longa data que mais tarde veio a se tornar sua esposa.

Mas foi Harry quem mais incisivamente invocou sua mãe no domingo. Ele disse acreditar que Diana teria ficado com raiva e triste com o tratamento dado ao casal. E que ela teria apoiado a decisão deles de deixar a Grã-Bretanha e buscar uma nova vida longe das restrições da família real.

Dada a experiência dela, disse ele, sua própria situação tinha um ar de inevitabilidade.

“Voltando ao que você me perguntou - o que minha mãe pensaria disso - acho que ela previu isso”, disse ele a Oprah. “Mas, no final das contas, tudo o que ela sempre quis é que fôssemos felizes.”

Para Harry, há o elemento adicional de saber que seu pai causou dor à mãe, e que Charles sabia o quão infeliz ela era no papel de esposa real. Agora, disse a Oprah, ele e Charles tiveram uma briga por causa de Meghan, com seu pai a certa altura se recusando a atender suas ligações.

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"Há muito para lidar com o que aconteceu em meio a tudo isso", disse Harry. “Eu me sinto muito decepcionado, porque ele passou por algo semelhante. Ele sabe como é a dor e Archie é seu neto. Ao mesmo tempo, é claro, sempre o amarei. Mas muito sofrimento foi causado. ”

Perto do final da entrevista, Harry falou sobre seu filho, Archie, e sua nova vida na Califórnia. Ele parecia amoroso - e melancólico. Por um momento, parecia estar se lembrando de como era a sensação de estar sem mãe aos 12 anos.

“O ponto alto para mim é colocá-lo na garupa da bicicleta em sua cadeirinha de bebê e levá-lo nesses passeios de bicicleta”, disse ele. “Algo que nunca fui capaz de fazer quando era jovem.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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