‘Economia pressiona governo bielo-russo’, diz especialista em Leste Europeu

Para Joerg Forbrig, até a população mais pobre, que antes era aliada, está contra Lukashenko

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Por Paulo Beraldo
Atualização:

As manifestações contra o governo de Alexander Lukashenko são as maiores na Bielo-Rússia desde o início dos anos 90, quando ele chegou ao poder. Na avaliação de Joerg Forbrig, diretor de Europa Central e do Leste no German Marshall Fund, quanto mais os atos nas ruas durarem, menor as chances do “último ditador da Europa”continuar à frente do país. 

Joerg Forbrig, diretor de Europa Central e do Leste no German Marshall Fund Foto: German Marshall Fund

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Há uma possibilidade real de Lukashenko deixar o poder?

A possibilidade de queda é muito real. Pode ser uma questão de dias se a mobilização que estamos vendo continuar e crescer. Em algum momento, essa mobilização vai chegar a um nível e a um tamanho em que o aparato de segurança não poderá fazer mais nada. Quanto mais tempo durarem as manifestações, menores as chances de Lukashenko ficar no poder. 

O que mudou para que houvesse uma oposição nas eleições e esses protestos em massa?

A Bielo-Rússia está em estagnação econômica há pelo menos dez anos. Isso primeiro afetou os moradores de pequenas cidades. São pessoas que tiveram menos educação e são mais dependentes dos empregos estatais. Elas viram seus salários estagnados, os preços subirem e algumas foram até forçadas a trabalhar fora do país. Elas apoiavam Lukashenko ou eram, digamos, passivas. Esse grupo foi mobilizado simplesmente porque sua situação econômica e social foi piorando severamente. O outro grupo impactado é parte da elite que trabalha na administração pública e nas companhias estatais. São pessoas que perceberam que o desenvolvimento econômico do país não pode ser mais assim, que precisa de reformas, e estão se mobilizando. 

Que tipo de reformas econômicas são pedidas? 

A Bielo-Rússia tem uma economia muito controlada pelo Estado. É uma economia quase soviética. Há indústrias que não são lucrativas. O déficit do setor estatal só pode ser compensado com subsídios da Rússia em áreas como óleo, gás, empréstimos. É um modelo que não se sustenta mais. 

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A pandemia ajudou a unir as pessoas contra o governo? 

Lukashenko negou efetivamente a crise. Chamou de psicose. Mas as pessoas esperam muito dos serviços estatais. Então, o povo da Bielo-Rússia se sentiu abandonado. Eles ficaram desapontados porque não tiveram suporte, orientações e nem informações sobre como responder à pandemia. 

Qual foi o papel da oposição nas eleições da Bielo-Rússia?

No passado, a oposição era apenas um pequeno grupo de pessoas que geralmente não convenciam muito. Neste ano, três pessoas apareceram como fortes candidatos e conseguiram mobilizar a população. E o governo percebeu isso. Dois foram presos e um exilado. A esposa de um deles, Svetlana Tikhanovskaya, quando viu isso, decidiu então fazer a campanha totalmente amadora. E combinou seus esforços com as equipes das outras campanhas. Foi uma situação que a Bielo-Rússia nunca viu no passado. Ela se tornou o rosto da mudança mesmo sem ter exatamente um programa. Ela dizia que queria eleições justas e livres, defendia que os presos políticos fossem liberados. Ela foi escolhida por sua oposição contra Lukashenko. Há uma sensação de 'qualquer pessoa menos ele'.  

Muitos dos manifestantes têm feito protestos pacíficos com flores Foto: Sergei GAPON / AFP
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