19 de agosto de 2019 | 14h31
CARACAS - Os Estados Unidos abriram uma canal de comunicações com Diosdado Cabello, o segundo nome mais importante da hierarquia chavista na Venezuela, disse uma fonte do governo americano à Associated Press no domingo, 18. A reunião ocorreu em julho em Caracas e um segundo encontro está sendo negociado. A agência não divulgou o nome da fonte nem do emissário do governo americano.
À frente da Assembleia Constituinte e do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Cabello é visto pelos americanos como um possível negociador no impasse entre o chavismo e a oposição. Desde que a crise política e econômica no país se agravou, o chavista ampliou seu controle sobre as forças de segurança e em alguns setores do governo. Ele é acusado na Justiça americana de narcotráfico e corrupção.
Segundo a fonte do governo americano, as negociações não incluem nenhum tipo de respaldo a Cabello, mas buscam ampliar as pressões entre os conflitos existentes hoje dentro das distintas facções do governo venezuelano. Outros contatos similares estão em cursos com diferentes figuras do alto escalão chavista.
O principal objetivo dos Estados Unidos é identificar quem no chavismo estaria mais aberto a apoiar uma transição. Washington já congelou ativos da maior parte da cúpula venezuelana e a Justiça americana já investiga alguns dos principais nomes do regime, como o próprio Cabello e o ex-vice-presidente Tareck El Aissami.
A avaliação de setores de inteligência americanos é que a combinação das sanções pessoais e econômicas tem ameaçado parte da cúpula e isso tornaria alguns nomes-chave dispostos a negociar.
A própria fonte, no entanto, reconhece que dificilmente Cabello trairia o presidente Nicolás Maduro. Segundo ela, o chavista aceitou conversar com os americanos com a anuência do presidente e com o objetivo de retirar as sanções ao petróleo venezuelano, impostas em 2017 e que ampliaram os efeitos da crise no país.
Uma segunda fonte que testemunhou a reunião disse que Cabello parecia objetivo e bem preparado na reunião, com um amplo entendimento dos problemas políticos que afetam o país.
Não é a primeira vez que Cabello negocia com os americanos. Ainda no governo Barack Obama, o chavista se reuniu com o subsecretário para Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, em meio às eleições legislativas de 2015. As reuniões, no entanto, fracassaram.
Desde janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional Juan Guaidó declarou-se “presidente interino” do país, as expectativas por uma transição negociada aumentaram, mas até agora sem resultados práticos relevantes.
No começo do mês, os EUA ampliaram as sanções à Venezuela, congelando bens do Estado venezuelano no exterior e ameaçando empresas estrangeiras que fizerem negócios com os chavistas. Essa decisão fez com que Maduro abandonasse negociações com a oposição patrocinadas pela União Europeia, o Uruguai e o Equador, e conduzidas pela diplomacia da Noruega.
O regime ainda mantém a coesão do Exército e do aparato de segurança e burocracia estatal. Fontes do governo americano acreditam que alguns chavistas insatisfeitos com o impacto das sanções podem pedir garantias de que não serão investigados para romper com Maduro.
Oficialmente, a posição do governo americano é a de que as sanções individuais serão retiradas apenas com passos significativos e concretos para pôr fim ao governo de Maduro. Foi o caso, por exemplo, do ex-diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), Manuel Christopher Figuera, que rompeu com o governo venezuelano em maio.
Em tese, como chefe da Constituinte, Cabello tem o poder de tirar Maduro do poder, o que poderia facilitar a transição. Segundo a oposição venezuelana, outros nomes da cúpula em contato indireto com os americanos são o Ministro da Defesa Vladimir Padrino - outro alvo de sanções do Departamento do Tesouro - e Néstor Reverol, Ministro do Interior, que é investigado por narcotráfico. / AP
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.