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Equador, a mordaça 2.0

Atualização:

Editor e articulista veterano, Emilio Palacio dispensa conselhos para elaborar seus artigos. Mas o jornalista equatoriano de 48 anos, que durante 13 anos dirigiu a página de opinião do jornal El Universo, teve de recorrer a profissionais para redigir seu último argumento, talvez o mais importante de sua carreira.Condenado a 3 anos de prisão por ter supostamente ofendido o presidente Rafael Correa, Palacio pediu asilo político aos EUA e semana passada teve audiência no Departamento de Imigração, em Miami, onde está foragido. O cônsul-geral do Equador em Miami negou que Palacio fosse um perseguido político, mas apenas um réu em um crime comum: a calúnia. O problema, no Equador, é que a política engoliu a Justiça. "Esse é um caso clássico de perseguição política", diz sua advogada, Sandra Grossman. "A ação contra o senhor Palacio foi para silenciá-lo."A palavra final do governo americano pode demorar dias, semanas, meses ou até anos. Quando vier, determinará a sorte do jornalista e de seu jornal, mas também pode criar um marco para a imprensa da América Latina, que anda maltratada.Desde 2007, Correa trava uma batalha inédita com a imprensa. Não que seja antimídia. Pelo contrário, entende como poucos o peso da comunicação. Antes dele, o governo operava uma estação de rádio - hoje é dono de mais de 15 veículos. E os meios que não possui, sequestra, ao convocar em ritmo ofegante cadeias nacionais para transmitir filípicas contra seus desafetos, especialmente na imprensa.O destempero de Correa não se confina às palavras. Sua queda de braço com o "poder informativo" começou na Constituinte de 2007, que no Artigo 18 garante ao "povo" o direito à "informação verídica, averiguada, oportuna, contextualizada e plural" (leia-se tutelada). Não demorou para que o governo aplicasse a nova ordem. Ano passado, El Universo publicou um duro editorial acusando o presidente de ter simulado um golpe de Estado em 2010. O próprio presidente teria ordenado tropas leais a atirar contra o hospital onde ele estava negociando com policiais rebelados.O governo retaliou a "calúnia", exigindo a prisão de três diretores do jornal e multa pesada. Palacio, temendo a falência do jornal, pediu demissão e o jornal convidou o governo a responder ao artigo. Correa não quis saber. A Justiça não o decepcionou e, em 24 horas, condenou Palacio e dois diretores.Quando se lançou candidato à presidência, Correa esforçava-se para se desvincular de um ativo político tóxico: Hugo Chávez. Correa hoje parece empenhado não em copiar o homem forte venezuelano, mas em superá-lo. Com a nova Constituição, ganhou sobrevida política, podendo estender seu mandato até 2017. Sabe que a mídia é peça fundamental nessa empreitada. Sua nova regra: a mídia está proibida de se manifestar "direta ou indiretamente" a favor de qualquer candidato, até nos editoriais. Também sabe que, sem partir para uma franca ditadura, dificilmente dominará a informação em uma sociedade como o Equador, com feroz instinto democrático. Mas poucos tentaram como Correa.   * MAC MARGOLIS É CORRESPONDENTE DA REVISTA NEWSWEEK NO BRASIL, COLUNISTA DO ESTADO, EDITA O SITE WWW.BRAZILINFOCUS.COM

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