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Equador elege hoje sua Constituinte

Segundo analistas e pesquisas, popularidade do esquerdista Correa deve dar maioria de cadeiras a seu partido

Por Renata Miranda
Atualização:

País cujo sistema político se deteriorou ao longo da última década - período de instabilidade durante o qual teve sete presidentes -, o Equador vai às urnas hoje para escolher os responsáveis por redigir uma nova Constituição. Estão registrados 9,3 milhões de eleitores, que elegeram 130 deputados constituintes entre 3.229 candidatos. A previsão de institutos de pesquisa é a de que o partido Aliança País, do presidente Rafael Correa - amigo do líder venezuelano, Hugo Chávez -, consiga a maioria das cadeiras. ''''Após tantas crises políticas, o povo equatoriano vê Correa com esperança'''', afirmou a socióloga da Pontifícia Universidade Católica do Equador Natalia Sierra ao Estado, por telefone. Segundo ela, a alta popularidade do presidente - cerca de 75% de acordo com pesquisa divulgada na semana passada - deve garantir o triunfo da Aliança País. Há nove meses no cargo, Correa, um economista de 44 anos, afirmou que colocará seu cargo à disposição da Constituinte e, ao mesmo tempo, pedirá a dissolução do Congresso unicameral, o qual ele qualifica de ''''corrupto e incompetente''''. O partido de Correa não tem nenhum deputado no Congresso em razão do boicote à eleição legislativa do ano passado. Agora, Correa espera ser ratificado no poder pela Constituinte para avançar em seu projeto político. Assim como Chávez, Correa propõe a instalação de um ''''socialismo do século 21'''' no país. No entanto, na semana passada, o líder equatoriano disse que, diferentemente de Chávez, ele não pressionará a Constituinte para derrubar a proibição à reeleição. Correa disse ainda que não tem interesse nenhum em promover reformas para perpetuar-se no poder. O cientista político Pablo Andrade, coordenador do Programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Andina Simón Bolívar, em Quito, analisa que, caso o partido governista conquiste de fato a maioria absoluta, a oposição pode tentar bloquear a Constituinte. ''''Neste cenário, os grupos opositores devem fazer o máximo para impedir a aprovação da nova Constituição'''', afirma Andrade. No entanto, o analista lembra que a oposição pode ter dificuldades em criar fortes alianças para enfrentar o presidente. Alexei Páez, analista político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) do Equador, acredita que a oposição não representa perigo nenhum para o Aliança País. ''''A oposição equatoriana é heterogênea e desorganizada'''', afirmou. ''''Nesse momento, o presidente está sozinho, diante de uma estrutura política destruída'''', explica Páez. CRISE POLÍTICA Nos últimos dez anos, o Equador viu seu sistema político desmantelar-se em meio a crises que acabaram fazendo com que três presidentes eleitos não conseguissem chegar ao fim do mandato. ''''Após tantas tormentas políticas, o país está esgotado e as estruturas de poder estão altamente depreciadas e insustentáveis'''', disse Páez. ''''Estamos num momento de mudança real para o país e a proposta de uma nova Constituição tem todo sentido.'''' Hoje será a quarta vez em menos de um ano que os eleitores equatorianos irão às urnas - as duas primeiras foram no fim do ano passado para escolher o presidente (Correa foi eleito no segundo turno com 56% dos votos válidos). A terceira foi em 15 de abril, no referendo que decidiu, por 82% dos votos, em favor da instalação da Assembléia Constituinte. O fórum constitucional será instalado na cidade de Montecristi no dia 31 e funcionará durante 180 dias - podendo ter seu prazo prorrogado em até 60 dias. O organismo será dirigido por um presidente e dois vice-presidentes escolhidos pela maioria absoluta de seus integrantes. Para aprovar os projetos, serão necessários os votos de pelo menos 66 deputados. Essa será a segunda Assembléia Constituinte da história recente do Equador, que modificará a Carta aprovada em 5 de junho de 1998. A nova Constituição será a 20ª do país. Para o analista Páez, a formação da Constituinte é um momento decisivo para o governo de Correa e deve ajudar o presidente a recompor a constitucionalidade do país. No entanto, ele ressalta que, caso a Constituinte não consiga resolver a crise política no Equador, a gestão do presidente poderá ser considerada um fracasso. ''''Em outras palavras, neste momento, o Equador está em um ponto de decisivo no qual ou seguimos adiante ou tudo desabará.''''

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