Equipe boa, mas de ego inflado, testa estilo Obama

Assessores de renome exigirão boa coordenação do novo presidente

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Foto do author Fernando Dantas
Por Fernando Dantas e Washington
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Se o governo do futuro presidente dos EUA, Barack Obama, não corresponder às imensas expectativas criadas em torno dele, ninguém poderá atribuir a decepção à falta de estrelas e talentos na equipe. Há quase um consenso de que a "equipe Obama", como vêm sendo chamados os secretários de Estado já escolhidos, e os poderosos assessores da chamada "Ala Oeste" da Casa Branca, é das mais fortes entre os últimos governos dos EUA. Uma dúvida, porém, para os analistas, é se Obama vai conseguir coordenar tantas personalidades fortes e tantos egos inflados, e fazer seu governo funcionar de forma fluida e cooperativa. Alguns destaques do gabinete do presidente eleito são a futura secretária de Estado, a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, estrela de primeira grandeza da política americana, que disputou duramente a candidatura presidencial com Obama; o secretário de Saúde, ex-senador Tom Daschle, um militante da reforma do sistema de saúde que chegou a escrever um livro sobre o assunto; e o secretário de Energia, Steven Chu, prêmio Nobel de Física, defensor do aumento das pesquisas sobre energia alternativa, e um ativista contra o aquecimento global. Daschle também estará presente entre os assessores da Casa Branca, como diretor da Secretaria de Reforma da Saúde. Uma característica apontadas pelos analistas no futuro governo Obama é a força investida no círculo de assessores da Casa Branca, que, além de Daschle, inclui Carol Browner, responsável pela agenda de meio ambiente, e Lawrence Summers, chefe do Conselho Econômico Nacional, conhecido pela personalidade forte e às vezes difícil. A preocupação é que os assessores da Casa Branca, teoricamente encarregados de coordenar a ação dos inúmeros departamentos e agências governamentais, acabem concentrando demasiadamente o poder num pequeno círculo em torno do presidente. "Este é de fato um problema potencial", diz o o economista e advogado Kent Hughes, diretor do Programa sobre Globalização do Centro Internacional Woodrow Wilson em Washington, e ex-ocupante de cargos no Executivo Federal. Mas ele ressalva que "a Casa Branca sempre tenta gerir o governo fora da Casa Branca". Outro fato apontado por analistas como Hughes é que, ao reforçar a saúde e o meio ambiente no grupo mais próximo à presidência, Obama indica que estes temas centrais da campanha serão uma prioridade para valer do seu governo. Mas nem todos veem com bons olhos a concentração de poder na Casa Branca. O historiador I. M. "Mac" Destler, da Universidade de Maryland, disse ao Washington Post que a concentração de poder num pequeno grupo, se mal gerida, "tende a provocar perturbação, e às vezes caos, na forma como o governo de forma ampla atua". Outra inquietação é quanto à capacidade de Obama de liderar auxiliares com forte personalidade e projeção política, e que, muitas vezes, disputarão o poder com outros membros do governo. Nesta discussão, o nome que sempre surge é o de Hillary, que tem fortíssima luz própria e poderia estar mirando mais uma segunda tentativa de concorrer à Casa Branca do que os objetivos de Obama. Em recente artigo para a revista online Slate, o intelectual inglês Christopher Hitchens não só critica o potencial conflito de interesses de Hillary pelo fato de o marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, estar à frente de uma fundação que recebe donativos de diversos governos estrangeiros, como também afirma que ela vai administrar a pasta de política externa de olho nas eleições presidenciais de 2012 (e dar mais ouvidos a Clinton do que a Obama). Stephen Hess, especialista em presidência do Instituto Brookings, em Washington, discorda dessa visão: "De todas as pessoas na equipe da nova administração, ela será a mais leal, porque sabe que sua reputação está agora firmemente vinculada ao sucesso do governo Obama", diz. Hess observa que, apesar do grande número de auxiliares com forte luz própria, "que não vão concordar o tempo todo", "o governo Obama, em qualquer formato, vai acabar funcionando, pelo menos no início". A razão é o "alto grau de energia" da nova equipe "e o desejo de trabalhar junto e ter sucesso".

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