ANCARA - O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chega a Washington nesta semana em um contexto de crescentes tensões entre os dois aliados, tanto sobre o conflito sírio quanto em temas como os direitos humanos.
Nenhuma reunião bilateral está prevista com o presidente Barack Obama nesta segunda viagem de Erdogan aos Estados Unidos desde que foi eleito presidente turco, em agosto de 2014, o que ilustra o distanciamento entre os dois países, aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A Casa Branca informou nesta terça-feira, 29, que ele terá um encontro bilateral oficial com o vice-presidente, Joe Biden, na quinta-feira. Mas com Obama ele deverá se encontrar apenas informalmente entre uma reunião e outra da cúpula sobre segurança nuclear, motivo pelo qual ele visita o país.
Erdogan também deverá inaugurar uma grande mesquita de estilo otomano no Estado de Maryland, vizinho de Washington, o que ilustra a vontade turca de divulgar sua influência cultural para além de suas fronteiras.
Mas a inexistência de um encontro cara a cara entre os dois presidentes, enquanto é travado um combate contra o Estado Islâmico (EI) no Oriente Médio, reflete o clima entre os aliados.
No aeroporto de Istambul nesta terça-feira, pouco antes de viajar a Washington, Erdogan afirmou, no entanto, que se reunirá com seu colega americano durante a cúpula, embora a forma desta reunião ainda precise ser definida.
Um comunicado da presidência turca, no qual a viagem era anunciada, nem mesmo citava Obama, e indicava apenas que Erdogan teria conversas de alto nível em Washington sobre a luta contra o terrorismo após os atentados de Bruxelas, Ancara e Istambul.
Segundo o jornal Hürriyet, Erdogan esperava inaugurar a mesquita, a única nos EUA com dois minaretes, junto a Obama, mas ele rejeitou a ideia.
Relações envenenadas. A Turquia foi durante muito tempo encarada pelos Estados Unidos como uma aliada muçulmana chave, e uma força moderada de estabilização na região.
As relações se tornaram tensas nos últimos meses devido à guerra na Síria. Washington pede à Turquia que faça mais para combater o EI, enquanto Ancara expressa sua frustração pelo apoio americano aos combatentes curdos.
Derrotar o EI é a prioridade de Washington. Mas a Turquia quer, antes de tudo, a saída do poder do presidente sírio Bashar Assad, uma hipótese cada vez menos plausível após o apoio militar russo ao regime de Damasco.
Washington apoia ativamente os curdos sírios e seu principal partido, o PYD, já que considera que constituem a melhor opção de lutar contra o EI. Mas Ancara os considera o braço sírio do curdo PKK, o grande inimigo interno turco.
A essas tensões se somam as denúncias de Washington sobre os ataques na Turquia contra a democracia e a liberdade de expressão.
"Não estamos sempre de acordo em todos os temas. A liberdade de imprensa é um exemplo disso", declarou na segunda-feira o porta-voz do departamento de Estado, John Kirby.
Durante sua viagem aos Estados Unidos, Erdogan também planeja jantar com empresários e responsáveis da comunidade judaica americana, indicou seu porta-voz, em uma tentativa de reconstruir os laços entre a Turquia e Israel. / AFP e EFE