Escalada de tensão na Síria faz mais de 800 mil deixarem suas casas

Província de Idlib, no noroeste do país, enfrenta desastre humanitário; 60% da população é formada por crianças e jovens, segundo a ONU

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O agravamento da tensão entre as tropas do governo sírio e os rebeldes que lutam contra a ditadura de Bashar al-Assad levou pelo menos 800 mil pessoas a deixarem a província de Idlib, no noroeste do país, desde o início de dezembro. Com o avanço das tropas sírias, aliadas do russo Vladimir Putin, milhares de cidadãos estão fugindo dos conflitos indo para o norte do país, região considerada mais segura. 

A região de Idlib, considerada um dos últimos redutos da resistência contra Assad, tem cerca de três milhões de habitantes e enfrenta temperaturas próximas de zero, com neves e chuvas nos últimos dias. Os moradores têm fugido como podem e colocam tudo o que têm em carros, caminhões e ônibus. A ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos, com base no Reino Unido e observadores na Síria, estima que apenas na semana passada foram mais de 100 mil deslocamentos.  

Jovens e crianças são 60% da população na região de Idlib que parte em busca de segurança Foto: AAREF WATAD / AFP

PUBLICIDADE

Das mais de 800 mil pessoas que deixaram a região desde 1º de dezembro, a maioria mudou-se para locais que já estavam densamente povoados por refugiados que abandonaram suas casas em conflitos anteriores. A ONU avalia que a necessidade mais urgente é de abrigos, já que milhares de pessoas vão para áreas que não têm capacidade de receber tanta gente. 

"Dado o alto número de pessoas que fugiram de suas casas nos últimos dois meses e a rapidez do movimento da população, as necessidades humanitárias no noroeste da Síria estão aumentando exponencialmente. Abrigos, itens não-alimentícios, assistência alimentar e de proteção continuam sendo as necessidades mais prementes - com 93% dos recém-deslocados identificando os abrigos como uma das principais necessidades", diz um relatório da instituição.

Veículos levando moradores para outras regiões do norte do país Foto: Rami al SAYED / AFP

'Fora de controle'

O porta-voz do Escritório da Organização das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) na Síria, David Swanson, afirmou que a situação está "fora de controle". Entre os civis, mais de 80% são mulheres e crianças. Em nove meses de ofensiva, mais de 1.500 civis foram mortos na região - número que deve aumentar se a situação se mantiver assim, avalia Swanson. 

O regime de Bashar al-Assad acusa os turcos de manterem tropas no noroeste do território sírio e de darem suporte aos grupos opositores, o que vem elevando a tensão entre os vizinhos. Na semana passada, pelo menos 55 soldados do exército sírio foram mortos nos últimos ataques da Turquia na província de Idlib. A ação foi uma resposta aos atentados que causaram 14 baixas entre as tropas turcas posicionadas na área.

Publicidade

Cidade de Kafranbel, no sul da província de Idlib, é uma das que ficou 'deserta' com o avanço das tropas sírias Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP

Idlib está localizada perto da fronteira turca e Ancara teme que a ofensiva do regime sírio cause um novo fluxo de refugiados para a Turquia, que já abriga 3,7 milhões de sírios. As tensões em Idlib também prejudicam a relação entre Rússia e Turquia. Apesar de seus interesses conflitantes na Síria, ambas têm fortalecido a cooperação bilateral desde 2016. 

Damasco e Moscou afirmam combater "terroristas", mas o presidente turco, Recep Erdogan, os acusa de atacarem "principalmente civis", a fim de empurrar as populações para a fronteira turca. / EFE, REUTERS e AFP

Guerra na Síria começou em 2011 e tem nesse momento um de seus piores êxodos Foto: AP Photo/Ghaith Alsayed
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.