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Escândalo da Enron ronda a Casa Branca

Por Agencia Estado
Atualização:

A proximidade pessoal do presidente George W. Bush e de sua família com Kenneth Lay, o fundador e ex-presidente da Enron, e os vículos de vários membros do primeiro escalação da atual administração com a companhia texana alimentam desde o início especulações sobre o impacto político que a a escandalosa bancarrota da empresa poderá ter para o popular líder norte-americano. Embora Bush tenha adotado recentemente um tom mais crítico em relação às irregularidades comertidas pela Enron, depois de uma reação inicial defensiva, que incluiu uma tentativa de minimizar suas relações com Lay, o crescente êscandalo continua a rondar a Casa Branca. Seu potencial para causar danos para Bush e os republicanos foi reforçado nos últimos dias por dois desdobramentos do caso e pelos resultados de uma pesquisa de opinião. As especulações aumentaram, na sexta-feira, depois que a Casa Branca ordenou uma revisão de todos os contratos em vigor entre as agência federais americanas, por um lado, e a Enron e sua ex-auditora, a Arthur Andersen, que aprovou a contabilidade fraudenta da Enron e os esquemas ilegais que a empresa adotou para esconder prejuízos e, depois, destruiu parte das provas do crime. As duas companhias têm atualmente cerca de 70 milhões em contratos com diferentes repartições do governo. A iniciativa poderá ajudar a Casa Branca a separar-se do escândalo, especialmente se levar ao cancelamento dos contratos. Mas ela foi anunciada no mesmo dia em que o New York Times informou que durante a campanha eleitoral do ano 2000, a Enron contratou os serviços de assessoria de Ralph Reed, um dos líderes da direita religiosa americana, para atender ao então estrategista da campanha presidencial de Bush, Karl Rove, hoje o principal assessor de política doméstica da Casa Branca. Segundo o Times, Bush temia que Reed aderisse à campanha de um de seus rivais republicanos e usou a Enron, via Rove, para garantir sua lealdade. Isso é illegal. Rove e Reed negaram a versão do Times. A curto prazo, o perigo maior a Casa Branca deriva de sua recusa em divulgar as minutas das reuniões de uma força-tarefa sobre política energética que o vice-presidente Dick Cheney presidiu no ano passado. Vários altos executivos da Enron participaram das discussões do grupo, que resultaram numa proposta de política energética baseada numa forte expansão da produção de gasolina e gás natural (o negócio original da companhia texana). O plano já foi aprovado pela Câmara de Representantes. Na sexta-feira passada, o General Accounting Office (GAO), agência de investigação do legislativo que faz a auditoria do governo, deu prazo até esta semana para a Casa Branca entregar-lhe os documentos ou enfrentar um processo judicial sem precedentes. O GAO quer saber a extensão da influência da Enron na formulação da política energética da administração Bush. O risco que o escândalo apresenta para Bush e seus correligionários conservadores foi confirmado por uma pesquisa de opinião divulgada hoje pelo New York Times. De acordo com a sondagem, mais de 80% dos americanos acham que o colapso da Enron é um assunto de importância nacional. Embora a Enron tenha financiado campanhas tanto de republicanos e de democratas, quase metade das pessoas ouvidas - 45% - dissera, corretamente, que a companhia tinha mais ligações com o Partido Republicano. Apenas 10% identificaram a Enron com os democratas. Segundo a pesquisa, mesmo os eleitores republicanos acham que a administração Bush não está sendo transparente como devia sobre o crescente escândalo. Essa percepção, combinada como os outroas dados da sondagem, complicam os planos dos republicanos para manter a apertada maioria que detêm na Câmara de Representantes e retomar o controle do Senado nas eleições legislativas de novembro - uma tarefa que já era tida como improvável pelos especialistas antes mesmo do colapso da Enron. A pesquisa revelou outro dado que não contribui para os cálculos politicos da Casa Branca e dos republicanos: a economia voltou a dominar as preocupações dos norte-americanos, tomando o lugar da guerra contra o terrorismo e da segurança.

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