Escândalo de corrupção atinge governo do Chile

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do presidente Ricardo Lagos foi abalado com a detenção de seu ex-ministro de Obras Públicas, em um novo episódio de escândalo provocado por subornos e pagamentos irregulares a altos funcionários. Embora Lagos tenha tentado mostrar que a detenção, na terça-feira, de seu amigo e ex-colaborador Carlos Cruz afetou-o apenas no aspecto humano, como ressaltou em uma declaração pública, a situação causou alterações e preocupações no governo. Cedo nesta quarta-feira, Lagos se reuniu com seu ministro do Interior, José Miguel Insulza, e outros dois ministros, para analisar o caso. Versões da imprensa hoje na Internet, bem como dos analistas privados, indicam que a reunião teve como foco principal o temor de que as investigações judiciais possam envolver o próprio presidente. Cruz teve sua prisão preventiva decretada por ter sido acusado por um juiz de fraudar o fisco ao favorecer, através da concessão de serviços, uma empresa que teria pago subornos no valor de US$ 2 milhões ao ministério de Obras Públicas. Esses pagamentos incluíram a entrega de honorários extras a cerca de 80 funcionários do ministério. Lagos foi ministro de Obras Públicas antes de lançar-se candidato à Presidência, em 1998. A detenção de Cruz se seguiu à decisão do juiz Carlos Aránguiz, de julgar cinco deputados governistas por um caso de suborno. Durante as investigações, Aránguiz se deparou com o fato de que alguns dos processados também receberam dinheiro extra, ampliou seus interrogatórios e responsabilizou Cruz pelas supostas irregularidades, que haviam sido investigadas pela Controladoria da República sem que fossem encontrados indícios de delitos. Lagos reiterou nesta quarta-feira sua promessa de que o governo não intervirá nas acusações de suborno, "recaiam sobre quem recaírem", e de que respeitará as decisões judiciais. O presidente, ao participar hoje de uma reunião com empresários para promover investimentos no Chile, insistiu em seu compromisso em relação à probidade de seu governo. "Tomaremos todas as medidas que sejam necessárias e, na agenda que temos para os próximos três anos, não há dúvida de que este vai ser um tema permanente", disse Lagos. Outros funcionários, no entanto, manifestaram sua surpresa pela detenção e ressaltaram a honestidade de Cruz. O ex-ministro de Obras Públicas foi visitado na prisão especial para processados por delitos econômicos pelo atual subsecretário do ministério, Juan Carlos Latorre, que é o número dois de sua pasta. Caso Cruz seja condenado, poderá enfrentar uma pena de até cinco anos de prisão. O governo e sua equipe aguardam, também com impaciência, uma resolução da Corte Suprema, na sexta-feira, sobre a suspensão no cargo de cinco deputados governistas. Lagos descreveu tal situação como a pior crise de sua coalizão de quatro partidos de centro-esquerda desde que ela foi criada, há 15 anos, para derrotar o ex-ditador Augusto Pinochet. Além do descrédito da coalizão, o governo poderá ficar com uma frágil maioria na Câmara dos Deputados se os cinco legisladores forem suspensos. A Corte Suprema anunciou já ter chegado a um acordo sobre o afastamento dos deputados, e que publicará a decisão na sexta-feira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.