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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Escolha difícil para Biden

Biden quer uma negra como vice, mas com experiência para disputar a presidência em 2024

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Atualização:

Joe Biden terá 78 anos quando assumir a presidência, se for eleito. Ronald Reagan, até agora o presidente mais velho da história dos Estados Unidos, só atingiu essa idade duas semanas depois de concluir o segundo mandato, em 1989. É muito difícil que Biden, se vitorioso na eleição de 3 de novembro, se candidate à reeleição em 2024, para assumir com 82 anos. 

Pela praxe nos EUA, ao final de dois mandatos consecutivos, o vice costuma ser o candidato a presidente. Biden é a única exceção recente. A principal razão foi a morte de seu filho Beau, de câncer, em maio de 2015, que o fragilizou. Portanto, a vice de Biden, se a chapa for vitoriosa, será a provável candidata democrata a presidente em 2024. No último debate, contra Bernie Sanders, dia 15 de março, na CNN, Biden afirmou que escolheria uma mulher para sua chapa. 

Montagem com imagens do presidente Donald Trump e o pré-candidato Joe Biden (D) Foto: Saul Loeb and Ronda Churchill/AFP

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Desde então, os EUA mergulharam numa tripla crise: a pandemia do coronavírus, a estagnação econômica dela resultante e os protestos contra o racismo e a violência policial. As pesquisas mostram que essas são as três principais preocupações dos eleitores.

Dos nomes cogitados pelos democratas, quem melhor reúne as vivências relacionadas com a reforma da polícia e o combate ao racismo é a deputada negra Val Demings, de 63 anos, que foi chefe da polícia de Orlando, Flórida. 

Em segundo lugar estaria a prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, de 50 anos, também negra. Advogada, ela não trabalhou na polícia, mas ficou em evidência nesse tema sobretudo depois que o negro Rayshard Brooks foi morto numa ação policial em Atlanta no dia 12. 

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Bottoms fez declarações bastante incisivas sobre a necessidade de reformar a polícia. E comoventes. Ela contou à CNN que, ao ouvir a história de Brooks, lembrou-se que aos 8 anos contava os dias para que seu pai saísse da prisão. Brooks resistiu para não passar na prisão o aniversário de sua filha de 8 anos no dia seguinte.

A senadora Kamala Harris, também negra e jovem (55 anos), foi procuradora-geral da Califórnia, mas está bem à esquerda do eleitorado independente e republicano descontente que Biden quer atrair. 

A ex-deputada estadual e candidata a governadora da Geórgia, Stacey Abrams é advogada e negra, mas não ocupou cargo federal. Demings, Bottoms e Harris estão no primeiro mandato. É pouca experiência, para quem daqui a quatro anos pode disputar o cargo de presidente. E até para as outras grandes questões de hoje: a saúde e a economia. 

Amy Klobuchar, senadora desde 2007, que despontou durante as primárias e abandonou a corrida para apoiar Biden, tem uma experiência que se tornou um problema: ela foi promotora no Condado de Hennepin, onde o negro George Floyd foi morto no dia 25 de maio por policiais brancos, desencadeando a atual onda de protestos. 

Como acontece com frequência no Ministério Público, Klobuchar cultivava uma parceria com a polícia de Minneapolis e parece ter fechado os olhos para a violência racial. Floyd foi morto no dia em que Klobuchar completou 60 anos. Ela saiu da corrida na sexta-feira, recomendando que Biden escolha uma negra.

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Elizabeth Warren, ex-professora de direito especializada em falências, teve papel de destaque nas discussões sobre a ajuda a empresas na crise de 2008, e é senadora desde 2013. Mas completa 71 anos amanhã. A chapa ficaria com dois idosos brancos, quando a diversidade é um valor-chave para os democratas.

Pesquisa da Universidade Monmouth divulgada na quinta-feira indica que Harris é a preferida de 28% dos eleitores democratas, seguida por Warren (13%) e Klobuchar (12%). Abrams ficou com 10% e Demings, com 7%. A ex-primeira-dama Michelle Obama tem 3%. Bottoms, a chefe do Conselho de Segurança Nacional no segundo mandato de Barack Obama, Susan Rice (negra), e a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, que enfrentou manifestantes armados por manter o lockdown, 2% cada. Nenhuma reúne todas as qualidades necessárias. Daí o dilema de Biden.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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