Escuta ilegal de negociações com Farc derruba cúpula militar na Colômbia

Chefes do setor de inteligência foram afastado por Santos após denúncias de grampos

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Por Redação
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BOGOTÁ - Um esquema de espionagem das negociações de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) derrubou na terça-feira, 4, a cúpula de inteligência do Exército do país. O monitoramento por meio de grampos ilegais foi revelado pela revista Semana e irritou o presidente Juan Manuel Santos, que busca um acordo com a guerrilha como um de seus trunfos para disputar a reeleição este ano.

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Segundo a "Semana", facções do Exército não tinham consentimento do governo para monitorar políticos da oposição, membros da guerrilha e negociadores do próprio governo que buscam um acordo em Havana. Santos exigiu uma investigação profunda do caso, que atribuiu a forças obscuras.

Horas depois, o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, anunciou a "substituição" do chefe de Inteligência do Exército, o general Mauricio Ricardo Zúñiga, e do diretor da Central de Inteligência Técnica (Citec), o general Oscar Zuluaga.

Segundo Pinzón, após uma prolongada reunião com o procurador-geral do país, Eduardo Montealegre, foi aberta uma "investigação disciplinar" do caso. Um relatório deve ser publicado até o final da próxima semana.

De acordo com a revista, um capitão que pertence ao batalhão de Inteligência Técnica do Exército dirigiu, desde setembro de 2012, uma central de grampos em um local que funcionava como restaurante e como escola de informática. Os supostos espiões interceptavam e-mails, bases de dados e mensagens em programas de telefones celulares.

Entre eles havia militares e civis recrutados em convenções de informática. Já entre os espionados estão ativistas e políticos de esquerda, como a ex-senadora Piedad Córdoba e o representante na Câmara Ivan Cepeda.

Também estariam sendo monitorados os representantes do governo nas conversas de paz com as Farc em Cuba: o chefe negociador e ex-vice-presidente Humberto de la Calle, e o alto comissário de Paz, Sergio Jaramillo, além do diretor da Agência Colombiana para a Reintegração (ACR), Alejandro Eder.

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"Não é aceitável que essa inteligência se faça contra cidadãos comuns, muito menos contra funcionários do próprio Estado. Especificamente contra os negociadores é algo totalmente inaceitável", criticou Santos.

"Devemos descobrir até onde chegou este uso ilícito da inteligência e quem pode estar interessado em gravar e interceptar os nossos negociadores de paz."

De acordo com a imprensa local, outras instituições podem ter sido alvo dos grampos dessas "forças obscuras". O jornal  El Tiempo informou que a promotoria e a polícia também foram vítimas das interceptações do Exército e que essa central clandestina tinha alvos "estratégicos", até que uma ordem provocou uma mudança nos alvos da espionagem para os próprios membros do Estado. / EFE

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