Escuta ilegal teria causado queda de líder chinês

Deposição de Bo Xilai era relacionada a um homicídio envolvendo sua mulher, mas motivo seria o grampo em telefonema de Hu Jintao

PUBLICIDADE

Por JONATHAN ANSFIELD E , IAN JOHNSON e PEQUIM
Atualização:

Em agosto, quando o presidente chinês, Hu Jintao, apanhou o telefone para conversar com um funcionário do alto escalão do departamento de combate à corrupção em visita a Chongqing, dispositivos especiais detectaram que a ligação estava sendo gravada - por funcionários do governo daquela metrópole no sudoeste da China. A descoberta deste grampo e de outras escutas telefônicas levou a uma investigação que ajudou a derrubar o carismático líder de Chongqing, Bo Xilai, num escândalo político que ainda não chegou ao fim. Até o momento, a queda de Bo tem sido retratada principalmente como a história de um populista que defendeu seus interesses com demasiada agressividade aos olhos de certos líderes importantes em Pequim e foi deposto por acusações segundo as quais sua mulher teria encomendado o assassinato de Neil Heywood, um consultor britânico, após uma briga de negócios. Mas as escutas telefônicas parecem ter apresentado outro motivo convincente para que os líderes do partido se voltassem contra Bo. A história de como o presidente foi grampeado mostra também o nível de desconfiança que reina entre os líderes do Estado de partido único. Para manter o controle sobre a sociedade, os líderes adotaram sofisticadas tecnologias de vigilância. Mas alguns deles empregaram esta tecnologia uns contra os outros. A versão da queda de Bo que o partido apresenta ao público omite o detalhe do grampo. Tanto a narrativa oficial quanto boa parte da atenção estrangeira têm se concentrado na morte de Heywood, em novembro. Quando o comissário de polícia de Chonqing, Wang Lijun, foi deposto e temeu ser implicado em assuntos da família Bo, fugiu para o consulado americano em Chengdu, onde falou principalmente a respeito da morte de Heywood. O relato do assassinato é crucial para o escândalo, conferindo aos adversários de Bo motivos inquestionáveis para o afastamento dele. Mas pessoas informadas a respeito da situação interna do partido dizem que o grampo foi visto como uma afronta direta à autoridade central. O episódio revelou a Pequim o quão longe Bo estava disposto a ir em seus esforços para ampliar o próprio poder na China. Isto se somou às suspeitas de que Bo não seria suficientemente confiável para ocupar um dos principais cargos do partido. De acordo com membros do alto escalão do partido, as operações de escuta telefônica encomendadas por Bo tiveram início anos atrás como parte de um reforço no aparato de vigilância promovido pelo governo, cujo propósito ostensivo seria o combate ao crime e a manutenção da estabilidade política local. Mas não foram visados somente os suspeitos de ser criminosos, mas também figuras políticas. Relatos internos do partido sugerem que seus líderes ficaram irritados com o fato de Hu ter sido alvo de grampo veem a escuta clandestina como um dos crimes mais graves de Bo. Um indiciamento preliminar em março acusou Bo de prejudicar a unidade do partido ao coletar evidências sobre outros dirigentes. Membros do partido dizem, porém, que seria muito mais danoso tornar pública a escuta clandestina. Quando Bo for acusado, enfim, o grampo possivelmente não será mencionado. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL e CELSO PACIORNIK

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.