Espanha anuncia o início de diálogo com o ETA

Zapatero reiterou que este será um processo "longo, duro e difícil", a acrescentou que "não se pagará preço político" para chegar a um acordo de paz com o ETA

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou nesta quinta-feira, no Parlamento o início do diálogo com a organização terrorista ETA, que no dia 22 de março declarou o cessar-fogo permanente. "O governo vai iniciar o diálogo com o ETA mantendo o princípio irrenunciável de que as questões políticas somente se resolvem com os representantes legítimos da vontade pública", disse Zapatero. Zapatero anunciou há algumas semanas sua intenção de solicitar apoio aos grupos parlamentares no Congresso, antes de acabar o mês de junho, para seguir adiante o processo aberto de negociações de paz com o ETA. Porém, acabou optando por fazer a declaração. O ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, já tinha informado aos partidos políticos a decisão de Zapatero. O presidente reiterou que este será um processo "longo, duro e difícil", a acrescentou que "não se pagará preço político" para chegar a um acordo de paz com o ETA. Na declaração, o presidente estabeleceu os "princípios básicos" sobre o futuro do País Basco e pediu a sociedade basca para que adote um "grande acordo de convivência política", com o "máximo de consenso possível" e "igualdade de oportunidades". Após essa declaração, o líder do conservador Partido Popular (PP), Mariano Rajoy, expressou seu apoio ao governo na intenção de dissolver definitivamente o grupo terrorista, mas não apóia o estabelecimento de diálogo político com seus dirigentes. Segundo Rajoy, o governo deve trabalhar para "recuperar a liberdade no País Basco e na Espanha, aplicar a lei e dissolver o ETA". "Não podemos apoiar o processo aberto se o governo não ratifica, não reconsidera sua posição e não garante aos espanhóis que não vai negociar politicamente ou se reunir com Batasuna (o braço político ilegal do ETA)", completou Rajoy. Negociações Zapatero afirmou que negociará com discrição e manteve a palavra ao não fornecer detalhes sobre onde ocorrerão as reuniões nem dizer quando começará o diálogo. O primeiro-ministro limitou-se a dizer que seu ministro de Interior manterá o Parlamento informado sobre o progresso das negociações em setembro. As negociações eram amplamente esperadas desde 22 de março, quando o ETA anunciou um cessar-fogo incondicional e permanente. O movimento separatista basco agiu durante mais de três décadas em toda a Espanha. O grupo provocou mais de 800 mortes em centenas de atentados. O objetivo do ETA era fundar um Estado independente em toda a região conhecida como País Basco, que abrange parte do nordeste da Espanha e do sudoeste da França. No passado, Espanha e ETA abriram dois processos de paz: o primeiro, em 1989, transcorreu na Argélia durante o governo do socialista Felipe González; o segundo, em 1998, foi realizado na Suíça durante o governo do conservador José María Aznar. Ambos transcorreram sob sigilo e fracassaram. Zapatero salientou nesta quinta-feira que a Espanha não pagará "nenhum preço político" por alcançar a paz, numa aparente referência ao fato de que pretende concentrar o diálogo na dissolução do ETA e na situação dos mais de 500 integrantes do grupo detidos nas prisões espanholas, e não no objetivo declarado do grupo de fundar um Estado basco independente e soberano. De acordo com o primeiro-ministro, o Batasuna, braço político do ETA, continuará proscrito, mesmo com as negociações. Este texto foi atualizado às 17h52

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