Espanha receberá navio com 629 imigrantes barrado por Itália e Malta

Médicos Sem Fronteiras alerta que comida e água estão acabando e as pessoas apresentam sintomas de cansaço e desidratação

PUBLICIDADE

Atualização:

MADRI - Depois de horas de um impasse diplomático entre países europeus, a Espanha anunciou nesta segunda-feira, 11, que receberá o barco Aquarius com 629 migrantes, atualmente parado em águas do Mediterrâneo. No domingo, Itália e Malta se negaram a acolhê-lo. 

Grupo de 629 imigrantes foi resgatado no sábado e passou o fim de semana esperando que algum país europeu o recebesse Foto: Karpov/handout via REUTERS

PUBLICIDADE

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ordenou que a Espanha “cumpra com os compromissos internacionais em matéria de crises humanitárias” e acolha a embarcação no porto mediterrâneo de Valência, leste da Espanha.

“É a nossa obrigação ajudar a evitar uma catástrofe humana e oferecer ‘um porto seguro’ a estas pessoas, cumprindo desta maneira com as obrigações do Direito Internacional”, afirma o comunicado do governo espanhol.

+ Itália põe em prática ‘tolerância zero’ com imigrantes

No navio da ONG francesa SOS Méditerranée viajam 629 imigrantes resgatados no sábado na costa da Líbia, 123 menores não acompanhados, 11 crianças e 7 mulheres grávidas. O navio está à deriva no Mediterrâneo desde o domingo depois que o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, declarou que “a Itália começa a dizer não ao tráfico de seres humanos” e à imigração ilegal, em mensagem nas redes sociais.

Além disso, Salvini e o ministro de Infraestruturas e Transportes, Danilo Toninelli, do Movimento 5 Estrelas (M5S), pediram a Malta “que assumisse suas responsabilidades” e acolhesse estas pessoas.

A proposta da Espanha “é alentadora, isso mostra que a há Estados sensíveis à urgência humanitária”, disse à France Presse Sophie Beau, diretora-geral da SOS Méditerranée. Faz um intenso calor no porão do navio, onde está a maioria dos imigrantes, principalmente as mulheres, disse a jornalista Annelise Borges, que estava a bordo do Aquarius.

Publicidade

Um dos voluntários do barco, Alessandro Porro, apontou em entrevista ao Huffington Post que, para chegar à Espanha, são necessários dois ou três dias de navegação e afirmou que as provisões no navio estão acabando, embora Malta tenha prometido que enviará mantimentos. 

Em entrevista à agência EFE, o americano David Beversluis, um dos médicos do Médicos Sem Fronteiras (MSF) que estão a bordo do “Aquarius”, alertou que não há “comida suficiente” para todos imigrantes que estão a bordo. “Há água para todos, mas só para hoje.” A maioria dos imigrantes apresenta sintomas de cansaço e desidratação.

A Médicos Sem Fronteiras informou pelo Twitter que “as pessoas na “Aquarius” estão cada vez mais ansiosas e desesperadas”. A MSF disse pela rede social que “um homem ameaçou pular do navio dizendo que tinha medo de voltar para Líbia”, país de onde muitos imigrantes fogem para a Europa e onde descrevem todo tipo de violência.

+ Comissão Europeia e ONU exigem que Itália dê fim ao impasse sobre navio com refugiados

PUBLICIDADE

Esta é a primeira desde a chegada ao poder da coalizão entre a liga e o Movimento 5 Estrelas (antissistema) que a Itália bloqueia seus portos. A Itália considera que seus sócios europeus a deixaram sozinha com a administração da crise migratória.

Depois do anúncio da Espanha, Salvini , líder da ultradireita Liga, festejou: “Vitória”, escreveu no Twitter. Mais tarde, ele disse à imprensa que esta será a primeira vez que um navio que socorre imigrantes na Líbia os desembarcará em um porto que não é italiano. “Este é um sinal de que algo está mudando”, comemorou.

Salvini fez campanha antes das legislativas prometendo o fechamento das fronteiras aos migrantes. Para frear o número de deslocados externos na Itália, ele e a Liga pregam uma equação que une a deportação de dezenas de milhares de pessoas sem documentos à redução drástica dos desembarques de navios que operam no Mediterrâneo.

Publicidade

A Itália, que 2013 viu desembarcar em seu litoral cerca de 700 mil migrantes, sente que durante a crise migratória a deixaram sozinha na condução da situação sem qualquer alguma ajuda de seus sócios da União Europeia.

Salvini advertiu que todos os navios de ONGs que ajudarem imigrantes na Líbia terão o mesmo futuro do Aquarius. “Quero pôr fim a este tráfico de seres humanos”, garantiu Salvini.

Ele também reagiu à chegada pela manhã, em frente ao litoral da Líbia, de outro barco fretado por uma ONG alemã, a Sea Watch. "Associação alemã, barco holandês, Malta que não se move, França que rejeita e Euruopa que faz a mesma coisa, chega", disse Salvini na mesma rede social.

Impasse interno.

Vários portos italianos, no entanto, expressaram sua disposição de acolher o Aquarius. "Se um ministro sem coração deixa morrer no mar mulheres grávidas, crianças, idosos, seres humanos, o porto de Nápoles está pronto para recebê-los", afirmou, no Twitter, o prefeito da cidade do sul da Itália, Luigi de Magistris.

O chefe do governo italiano, Giuseppe Conte, anunciou que foram enviados dois barcos de patrulha com medicamentos e prontos a atender às necessidades das pessoas à bordo. / AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.