Espanhóis respondem à crise nas ruas e urnas

Pesquisas mostram que eleitores descontentes com crise econômica elegerão opositores do Partido Popular em 10 das 17 regiões do país

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Por Jamil Chade
Atualização:

A crise econômica mundial pode ter terminado, mas suas repercussões políticas ainda não. Depois da queda dos governos de Irlanda e Portugal, é a vez de a Espanha sentir os efeitos eleitorais da receita de austeridade que implementou nos últimos meses para salvar suas contas. Hoje, os espanhóis vão às urnas em eleições locais. As pesquisas mostram que o Partido Socialista, do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, deve sofrer uma dura derrota para o Partido Popular. A votação servirá como um teste para as eleições gerais de 2012 na Espanha e para o futuro das medidas de austeridade em diversos países europeus. Mas, desta vez, o alerta aos partidos não virá apenas das urnas, mas também das ruas. Desde a semana passada, protestos foram organizados em 170 cidades do país, reunindo milhares de "indignados", que pedem que a população não vote hoje, como forma de protestar contra a classe política. O movimento foi proibido, mas desafiou as autoridades e ontem reuniu novamente milhares de pessoas. Com 5 milhões de desempregados, a Espanha não vive mais a mesma fartura de antes, quando o boom imobiliário alimentava os cofres, o acesso ao crédito permitia a rolagem de dívidas e a classe política promovia a ilusão de que o passado de dificuldades nunca mais voltaria. Após a crise de 2008, para salvar bancos e setores da economia, o governo proliferou pacotes de resgate e, com eles, as dívidas. Agora, para pagá-las, Madri corta salários e promove demissões. "Chegou a vez da revanche da população", disse Anabel Vargas, manifestante que ocupa a Puerta del Sol, em Madri. A principal reivindicação é contra o desmonte do Estado de bem-estar social. As últimas pesquisas mostram que o Partido Popular está 6 pontos acima dos socialistas. Após as eleições, 10 das 17 regiões da Espanha podem ficar com os conservadores. "Isso é uma catástrofe para os socialistas", afirmou José Toharia, presidente do instituto Metroscopia.

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