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Espião passava a israelenses dados sobre Líbano

Ali al-Jarrah teria enviado fotos e relatórios do Hezbollah desde 1983

Por Robert F. Worth
Atualização:

Durante 25 anos, Ali al-Jarrah conseguiu viver nos dois lados da mais implacável fronteira da região. Para amigos e vizinhos, ele era um firme defensor da causa palestina, um homem de família afável, que trabalhava como administrador numa escola próxima. Para Israel, ele parece ter sido um espião valioso, enviando relatórios e tirando fotos clandestinas de grupos palestinos e do Hezbollah desde 1983. Agora, ele ocupa uma cela numa penitenciária libanesa, acusado pelas autoridades de trair seu país em benefício de um Estado inimigo. Meses depois de sua prisão, seus amigos ainda estão em choque sobre a extensão de suas trapaças: as viagens ao exterior, o dinheiro inexplicado, a existência de uma segunda esposa secreta. Investigadores libaneses dizem que ele confessou uma carreira de espionagem espetacular em seu alcance e longevidade. É fato comentado que muitos agentes de inteligência operam no caos civil do Líbano, mas a prisão de Jarrah lançou uma rara luz sobre um mundo de espionagem que geralmente permanece em segredo. A esposa de Jarrah sustenta que ele foi torturado e é inocente. De sua casa nessa aldeia do Vale de Bekaa, Jarrah, de 50 anos, viajava frequentemente à Síria e ao sul do Líbano, onde fotografava estradas e comboios que poderiam ter sido usados para transportar armas para o Hezbollah, recebendo clandestinamente quantias de dinheiro, câmeras e aparelhos de escuta. Ocasionalmente, sob pretexto de uma viagem de negócios, ele voava para a Bélgica ou a Itália, recebia um passaporte israelense, e seguia para Israel onde apresentava relatórios completos. Ele foi preso em julho pelo Hezbollah, que o entregou aos militares libaneses para julgamento. Os investigadores dizem que ele recebeu mais de US$ 300 mil de Israel pelo seu trabalho. De acordo com Jarrah, ele foi recrutado em 1983 - um ano após Israel iniciar uma grande ofensiva no Líbano - por oficiais israelenses que o haviam detido. Esses lhe ofereceram pagamentos em troca de informações sobre militantes palestinos. Além do dinheiro, os demais motivos de Jarrah continuam um mistério. Segundo as mesmas fontes, ele diz que tentou parar, mas os israelenses não permitiriam.

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