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Espiões infiltram-se no Hezbollah

Líbano investiga rede de espionagem que teria fornecido a Israel informações sobre alvos civis e militares

Por Ian Black e THE GUARDIAN
Atualização:

A primeira regra da espionagem é não ser apanhado - e da contraespionagem, trabalhar para que operações inimigas sejam monitoradas e frustradas. Uma exposição ocasional pode fornecer percepções fascinantes de um mundo que deveria supostamente permanecer secreto. Assim foi nos últimos dias na fronteira mais quente do Oriente Médio, onde as autoridades libanesas vêm reunindo informações sobre uma rede, ou redes, de espionagem israelense que teria penetrado na organização xiita Hezbollah. A mídia libanesa e árabe está repleta de detalhes sobre o caso. O detido de maior destaque é Adib Alam, um general aposentado do Departamento de Segurança do Líbano. Alam, sua mulher e seu sobrinho - um funcionário de segurança de baixo escalão - são acusados de recolher informação sobre alvos militares e civis libaneses e sírios "com o objetivo de facilitar ataques israelenses" e guiar aviões israelenses até eles. Fontes de segurança libanesas alegam que por dez anos Alam viajou regularmente para a Europa para se encontrar com israelenses enquanto dirigia um negócio que trazia mulheres asiáticas ao Líbano para trabalhar com empregadas domésticas como uma fachada para suas atividades de espionagem. Na casa de Alam, os investigadores aparentemente encontraram um bar que ocultava um sistema de comunicações para transmitir e receber informações via satélite. Nesta semana, as autoridades detiveram outras três pessoas, duas libanesas e uma palestina, que teriam confessado ter entrado em Israel e recebido treinamento militar ali. RASTREAMENTO O grupo xiita libanês Hezbollah, "Partido de Deus", é apoiado por Irã e Síria e admirado até por seus críticos por sua rigidez e disciplina. Sua ala militar está alerta para os perigos da infiltração de serviços de inteligência hostis. Mas os sinais são de que a "resistência" pode ter aprendido isso da maneira mais difícil. No começo do ano, seu aparelho de segurança deteve o empresário Marwan Faqih, que teria vendido dezenas de carros a funcionários do Hezbollah, equipados com sistemas de rastreamento por GPS e dispositivos de escuta plantados pela inteligência israelense. Num terreno tão nebuloso, é razoável supor que pode haver desinformação em qualquer cobertura da mídia, mas parece provável que essa operação tenha permitido aos israelenses localizar bunkers e esconderijos de armas construídos desde a guerra de 2006. O Hezbollah interrogou Faqih e - num sinal da melhora de relação com o governo antes das eleições parlamentares de junho - entregou-o às autoridades libanesas, que o acusaram de colaborar com o inimigo. Antes disso, elas fizeram o mesmo com Ali al-Jarrah, outro libanês que foi posteriormente acusado de espionar para Israel por 25 anos e pode receber a pena de morte. Relatórios libaneses sugeriram uma ligação direta de Jarrah com a morte de Imad Mughniyeh, chefe militar do Hezbollah, num atentado com carro-bomba em Damasco em fevereiro de 2008 atribuído ao serviço secreto de Israel, o Mossad. Israel, como muitos governos, não comenta suas operações clandestinas. Mas, diferente da maioria dos outros, indicou sua responsabilidade, mas sem admiti-la: assim foi com o bombardeio em setembro de 2007 de um suposto reator nuclear na Síria; o assassinato de Mughniyeh; e o misterioso ataque a um comboio de armas no Sudão para abastecer militantes do Hamas em Gaza. O padrão é o seguinte: após um "sem comentários" inicial do governo, um político ou um funcionário faz uma observação "descuidada" que corrobora a história. Yossi Melman, especialista em inteligência israelense, parecia se esforçar para manter sob pressão os censores militares de Israel quando comentou ao jornal Haaretz que nem todas as operações de espionagem israelenses são conduzidas pelo Mossad. Ele sugeriu que agentes libaneses provavelmente foram recrutados e "dirigidos" por unidades de inteligência operando do outro lado da fronteira. São necessários dois para combater nas sombras e nos últimos meses a segurança israelense prendeu vários iranianos, libaneses e palestinos - além de israelenses - acusados de espionar para o Irã e o Hezbollah. As guerras secretas continuam.

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