SANTIAGO - Com pouco mais de 96% das urnas apuradas, a eleição da Assembleia Constituinte no Chile indica que haverá maioria de candidatos independentes e de centro-esquerda na redação da nova Carta do país. A centro-direita, apoiada pelo presidente Sebastián Piñera, deve ter menos assentos do que o esperado, num plenário dominado pela oposição.
Até às 06h00 desta segunda-feira, a centro direita tinha 38 dos 155 assentos no Congresso que redigirá a nova Constituição do país, quando esperava eleger pelo menos 52 deputados. O bloco conservador precisa de pelo menos um terço dos deputados para barrar mudanças constitucionais significativas.
Cindida em duas vertentes, Apruebo e Apruebo Dignidad, a esquerda somava 52 deputados - com 25 e 27, respectivamente. A grande novidade foi o resultado alcançado por candidatos independentes, com 48 cadeiras, na primeira vez em que se permitiu que pessoas alheias a estruturas partidárias concorressem a cargos públicos. Os outros 17 assentos estão reservados a lideranças indígenas.
Em entrevista coletiva, o presidente Sebastián Piñera afirmou que o recado das urnas foi claro. "Não estamos sintonizados adequadamente com as demandas e desejos dos chilenos", admitiu.
Analistas esperavam que a alta abstenção, com a maioria dos eleitores concentrados em bairros de classe média e alta, ainda pudesse favorecer candidatos mais conservadores.
A alta abstenção, com a maioria dos eleitores concentrados em bairros de classe média e alta, ainda pode favorecer candidatos mais No primeiro dia de votação, no sábado, 3 milhões dos 15 milhões de eleitores foram às urnas. Além da eleição dos constituintes, governadores e vereadores serão eleitos entre 16.730 candidatos para 2.768 cargos.
Centenas de milhares de membros do conselho eleitoral removeram das salas fechadas as urnas lacradas com os votos expressos e não utilizados, que foram guardadas pelas Forças Armadas chilenas durante a noite. Até agora, nenhuma irregularidade foi relatada.
A falta de interesse dos eleitores provocou críticas nas redes sociais, já que a assembleia foi convocada após forte mobilização popular em 2019.
A eleição dos constituintes tem vários fatos inéditos no Chile: serão escolhidos de forma equilibrada entre 45% e 55% de candidatos homens e Ter uma nova Constituição redigida por uma convenção conjunta foi uma decisão tomada em outubro do ano passado por 79% dos chilenos que participaram de um plebiscito, fruto de uma saída institucional da classe política para conter violentos protestos de rua.
O modelo econômico do país, herdado da ditadura de Augusto Pinochet, é alvo de muitas críticas /AP, EFE e AFP