Esquerda mexicana ameaça boicotar posse de Calderón

Os parlamentares de esquerda afirmaram que vão impedir a qualquer custo a possível proclamação de Felipe Calderón como presidente

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Por Agencia Estado
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A esquerda mexicana advertiu neste sábado que não permitirá que a suposta fraude nas eleições presidenciais de 2 de julho se concretizem, às vésperas do anúncio da decisão oficial sobre a validade do processo. Um dia após boicotar a leitura do relatório de governo que o presidente Vicente Fox pretendia apresentar ao Congresso, os parlamentares de esquerda afirmaram que vão impedir a qualquer custo a possível proclamação de Felipe Calderón como presidente. O Tribunal Eleitoral mexicano (Tepjf) tem até a próxima quarta-feira para anunciar sua decisão final. Calderón obteve uma vantagem de 243.934 votos (0,58 ponto percentual) sobre o líder de esquerda Andrés Manuel López Obrador, que pediu a impugnação dos resultados perante o Tepjf. Depois de fazer a recontagem de parte dos votos, o Tepjf se dispôs a declarar a validade da eleição, oficializando assim a vitória de Calderón. López Obrador afirma que Fox e outros líderes "de direita" prepararam a suposta fraude contra sua candidatura, e convocou uma "Convenção Nacional Democrática" para o dia 16 de setembro, Dia da Independência do México. O candidato expressou sua intenção de formar um "Governo paralelo de resistência". "Não permitiremos, de maneira nenhuma, que se legitime e se consume a grande fraude eleitoral de 2 de julho", disse hoje Martí Batres, um dos líderes do Partido da Revolução Democrática (PRD), o mesmo de López Obrador. Batres fez a declaração ao participar de uma assembléia popular na Cidade do México com vistas à Convenção Nacional que acontecerá na praça do Zócalo. São esperadas mais de um milhão de pessoas de "todo o país" para proclamar o líder de esquerda como "presidente legítimo". Milhares de militantes de esquerda ocupam há três semanas várias ruas da capital e a praça do Zócalo, em frente ao local onde Fox deve conduzir a cerimônia do Grito da Independência, na noite de 15 de setembro, e um desfile militar, no dia seguinte. Caso o Tepjf declare as eleições válidas, o presidente eleito deverá tomar posse no próximo dia 1º de dezembro, para um mandato de seis anos. Batres não mencionou detalhes de sua estratégia para evitar a possível proclamação de Calderón, mas expressou satisfação pelo fato de os legisladores do seu partido terem impedido na sexta-feira que o governante lesse seu último relatório de Governo ao Congresso. Fox se limitou a entregar seu relatório aos diretores da Câmara dos Deputados, que o receberam na entrada do recinto, e depois o transmitiu pela televisão. Os congressistas sabotaram a leitura do relatório ocupando o palanque da Câmara dos Deputados, com o argumento de que o Governo havia "restringido as garantias constitucionais" ao ordenar uma forte vigilância militar e policial nos arredores do Congresso. O chefe de Estado, que leu neste sábado o relatório em seu programa de rádio Fox contigo, acusou o PRD de ter "ofendido" a "instituição presidencial" e o "povo mexicano". Fontes oficiais disseram à Efe que não consideram que a ação dos legisladores do PRD tenha representado um sinal de "ingovernabilidade", e destacaram que Fox cumpriu com o que determina a Carta Magna ao ir até o Congresso e apresentar seu relatório por escrito. O analista Gabriel Gutiérrez, professor universitário de Ciências Políticas, afirmou que o ato da sexta-feira foi "um sinal de ingovernabilidade em meio à crise pós-eleitoral", e que "um precedente nefasto pode manchar as cerimônias de 15 e 16 de setembro e a eventual posse de Calderón". PAN O Partido Ação Nacional (PAN), do governo mexicano, expressou neste sábado sua certeza de que a Justiça ratificará a vitória de seu candidato Felipe Calderón, e que ele tomará posse como presidente pelo Congresso em 1º de dezembro. "Que ninguém duvide que Calderón receberá a faixa presidencial no Congresso", disse o secretário-geral do PAN, César Nava, horas depois de a oposição de esquerda reiterar suas denúncias de fraude no pleito de 2 de julho e a ameaça de impedir a todo custo a possível proclamação do candidato governista. Nava afirmou que a chefia do PAN aguarda "com tranqüilidade a resolução" do Tribunal Eleitoral (TEPJF), que tem até a próxima quarta-feira para declarar o presidente eleito se considerar válido o processo eleitoral impugnado pela esquerda. "Acreditamos que será ratificada a maioria dos votos que deu a Presidência a Felipe Calderón, a eleição validada e nosso candidato, por sua vez, declarado presidente eleito", ressaltou Nava. O dirigente do PAN - o partido do presidente mexicano, Vicente Fox - deu estas declarações depois de líderes do Partido da Revolução Democrática (PRD, esquerda), que concorreu com Andrés Manuel López Obrador como candidato, dizerem que não aceitarão um presidente ilegal, em referência a Calderón. López Obrador assegurou que Fox, Calderón e outros líderes da direita prepararam a suposta fraude. Ele convocou uma "Convenção Nacional Democrática" para 16 de setembro, Dia da Independência do México, e expressou sua intenção de formar um "governo paralelo de resistência", desprezado pelas autoridades. Nava ressaltou que os legisladores de esquerda "faltaram ao respeito com o povo do México, o presidente Fox e à sua própria posse como parlamentares". Ele voltou a dizer que o PAN não acredita que a situação de sexta se repetirá em 1º de dezembro.

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