LIMA - Sindicatos e organizações civis de esquerda do Peru convocaram uma manifestação em 16 de fevereiro para protestar contra a corrupção, após a eclosão do escândalo de pagamentos de propinas a funcionários públicos por parte da construtora brasileira Odebrecht. Em poucas horas, mais de duas mil pessoas manifestaram interesse em participar do ato pelas redes sociais.
A marcha foi convocada nesta quarta-feira, 8, pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), a maior central sindical do país, e outras organizações e coletivos, como o grupo "No a Keiko", promotor de grandes manifestações no ano passado contra a então candidata Keiko Fujimori. Também aderiu à mobilização a líder da esquerda peruana Verónika Mendoza, candidata derrotada no pleito presidencial em 2016.
A manifestação está anunciada para a próxima quinta-feira, 16, e terá como ponto de encontro a Praça 2 de Maio, situada no centro histórico de Lima. No Facebook, o ato "Grande Marcha Contra a Corrupção" reunia no começo de madrugada mais de 2,7 mil interessados.
Mendoza, líder da Frente Ampla das esquerdas, convocou os peruanos a sair às ruas para não cair na resignação e se convencerem de que o país "pode mudar e terminar de uma vez por todas com a corrupção".
A ex-candidata presidencial comentou que a mobilização também deve servir para abrir um debate nacional que culmine em uma nova Constituição, que substitua a de 1992, aprovada após o "autogolpe" de Estado protagonizado por Alberto Fujimori.
Segundo Verónika, a corrupção no Peru se instaurou e se institucionalizou com o advento do fujimorismo e com os governos "supostamente democráticos que o sucederam".
A política de 36 anos considerou que o atual presidente do Peru, Pedro Paulo Kuczynski, também deve dar explicações porque foi ministro da Economia e primeiro-ministro do gabinete de Alejandro Toledo, acusado agora de receber US$ 20 milhões em propinas.
"Se tiver de cair o atual presidente e outros três ex-presidentes para sanar de vez a corrupção neste país, que assim seja", afirmou.
De acordo com acordo firmado com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Odebrecht admitiu ter pago US$ 29 milhões em propinas a funcionários do alto escalão peruana entre 2005 e 2014, anos que compreendem os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Olanta Humala (2011-2016).
Toledo é a primeira grande figura da política peruana acusada de receber propinas e ter feito lavagem de dinheiro. A Procuradoria-Geral do Peru pediu nesta terça-feira, 7, à Justiça a prisão do ex-presidente. A decisão será tomada por um juiz nesta quinta-feira, 9.
Entre os já detidos pelo caso Odebrecht está o vice-ministro das Comunicações Jorge Cuba, acusado de favorecer a companhia no contrato de construção da Linha 1 do Metrô de Lima durante o segundo governo de Alan García. / EFE