Esquerda retoma Paris, um século depois

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Por Agencia Estado
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A esquerda francesa obteve hoje uma vitória eleitoral histórica conquistando a Prefeitura de Paris depois de 130 anos - desde que foi ocupada e incendiada pelos insurgentes durante a rebelião da Comuna. A chamada maioria pluralista formada por socialistas, comunistas, radicais e verdes conseguiu eleger a maior parte dos 163 conselheiros municipais: 89 grandes eleitores que deverão indicar, na reunião do Conselho de Paris no dia 25, o socialista Bertrand Delanoë como prefeito. Sua vitória veio de 14 dos 20 arrondissements (setores) da cidade, mas quatro deles - 9.º, 12.º, 13.º e 14.º, até então nas mãos da direita e onde a campanha havia se concentrado na semana passada - garantiram folgada maioria para os socialistas no colégio eleitoral. A esquerda francesa conquistou também um outro grande feudo dos partidos de direita, a maior surpresa do pleito municipal - a cidade de Lyon, até agora dirigida por um liberal, o ex-primeiro-ministro Raymond Barre, que não se candidatou. Nessa cidade, ganhou o socialista Gérard Colomb, que se aproveitou da divisão dos partidos conservadores de direita. O Partido Socialista conseguiu eleger 42 dos 73 conselheiros. Os conservadores ficaram com 31 cadeiras. Contudo, a esquerda não conseguiu a tão esperada vitória em Toulouse, base eleitoral de Lionel Jospin, onde o centrista Douste Blazy foi eleito com o apoio dos partidos conservadores. Direita Se a esquerda venceu em Paris e Lyon, duas das mais importantes cidades do país, onde ocorreu uma "maré cor-de-rosa", o mesmo não se deu no resto do país. Na chamada França profunda, a direita acumulou uma série de vitórias, definida como "vaga azul" por alguns de seus dirigentes. Os partidos de direita, o gaullista Reunião pela República (RPR), Democracia Liberal e os centristas conquistaram um grande número de cidades até então dirigidas por socialistas, como Rouen, Chartres, Lisieux, Cahors, Orleans, Quimper, Beauvais, Evreux e Roanne. Também Estrasburgo, controlada pela ex-ministra da Cultura, Catherine Trautmann, e Blois, dirigida pelo atual ministro da Cultura, Jack Lang, passaram da esquerda para a direita. Nimes, única cidade com mais de 100 mil habitantes governada pelo Partido Comunista, acabou sendo conquistada pela direita. Um número menor de municípios passou da direita para a esquerda - entre eles, Dijon, Le Mans e Ajaccio. Marselha e Nice permaneceram com a direita e Lille, com a esquerda (onde a ex-ministra Martine Aubry substituirá na prefeitura o ex-primeiro-ministro Pierre Mauroy). Outros dois ministros do governo de Lionel Jospin foram derrotados. Pierre Moscovicci, das Relações Européias, em Montbelliar, e a ministra do Trabalho e Solidariedade, Elisabeth Guigou, em Avignon. Ambos já haviam obtido votação insuficiente no primeiro turno. Essas vitórias conservadoras foram possíveis, em grande parte, em razão da recuperação do antigo eleitorado de extrema direita pelos partidos conservadores. Os partidos da extrema direita perdem terreno, mas estão longe de desaparecer do cenário político francês. Um dos grandes derrotados foi o PCF, que perdeu numerosas prefeituras, deixando de ser a segunda força da esquerda francesa. Os verdes reforçaram sua posição ao garantir a vitória da esquerda em Paris e Lyon. A forte repercussão da vitória dos socialistas em Paris e Lyon encobre os resultados satisfatórios obtidos pela direita no resto do país - a conquista de pelo menos 20 cidades com mais de 30 mil habitantes das mãos da esquerda e obtendo uma votação global superior no país.

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