Jornais inovam com o formato berliner

Tamanho intermediário entre standard e tabloide vem sendo adotado com sucesso por veículos na Europa, na Ásia e na América Latina

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Por Luiz Raatz
3 min de leitura

Uma das primeiras aulas da faculdade de jornalismo consistia em explicar a diferença nos formatos dos jornais impressos. O standard é o chamado “jornalão”. Formato mais usado no Brasil, é aquele que você dobra no meio e consegue até se esconder atrás da página. Já o tabloide é bem menor, quase do tamanho de uma revista. O exemplo usado por quase todos os professores eram os jornais gaúchos. E, por fim, há o formato germânico. Um meio do caminho entre os dois.

O germânico, ou berliner, tem esse nome por ter sido adotado no começo do século 20, em contraste com o tradicional formato standard. Tem 31,5 cm por 47 cm e é mais fácil de manusear na comparação com o standard. “O berliner conserva o desenho do standard, mas é mais elegante. E não tem o impacto negativo que poderia ter o tabloide, mais associado ao sensacionalismo. A primeira reação do leitor foi de surpresa, mas nos tornamos claramente um jornal mais moderno, mais ágil. O leitor agradeceu”, diz Jorge Rosales, editor da versão impressa do jornal argentino La Nación, que adotou o formato este ano.

Novidade no Brasil, com a mudança gráfica do Estadão, o berliner ganhou popularidade na Europa na virada do milênio. Os pioneiros foram os suecos. Na Escandinávia, o teste começou pelos suplementos, onde são publicadas notícias mais leves, sobre gastronomia, turismo e cultura. O Dagens Nyheter, de Estocolmo, adotou essa tática de apresentar o formato aos poucos aos leitores em 2004. E deu certo.

Edição do diário francês Le Figaro é impressa na França; diário adotou o formato berliner Foto: MARTIN BUREAU / AFP

O sucesso do berliner atravessou o Mar do Norte e ancorou na Inglaterra, país de larga tradição na imprensa escrita. Àquela altura, o formato também era um indicativo de seu conteúdo. Os jornais publicados em formato standard, como The Times e Guardian, eram tidos como mais sérios, e os tabloides, como The Sun e Daily Mirror, identificados com o sensacionalismo.

Coube ao Guardian, uma publicação bicentenária no Reino Unido, a iniciativa de modernizar seu formato, em 2005. O jornal fez um estudo profundo sobre diferentes tamanhos e chegou à conclusão de que o berliner era a melhor opção. Outros diários, como o Independent, chegaram a publicar dois formatos simultâneos para ver qual era o mais aceito pelo leitor. O formato germânico, novamente, foi o vencedor. Mas, sem dinheiro para trocar as impressoras, o jornal acabou adotando o formato tabloide.

Com o sucesso no Reino Unido, o formato se espalhou para outros países da Europa na primeira década do século.Le Monde e  Le Figaro, na França, La Stampa e La Repubblica, na Itália, e o Expresso, em Portugal, são algumas das publicações que preferiram o berliner. As razões para isso foram atestadas em pesquisas. O Independent, por exemplo, descobriu que 90% de seus leitores preferem o formato germânico, que consideram mais amigável e portátil.

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O tempo de leitura é maior e o conteúdo é assimilado com maior eficácia. Pesquisas feitas na Bélgica, pelo diário Gazet van Antwerpen, indicam que o impacto da publicidade também é maior no berliner.

O formato também foi adotado em vários países da Ásia, como na Coreia do Sul, onde o diário JoongAng Ilbo foi um dos primeiros a iniciar a transformação, em 2009. O principal jornal de língua inglesa dos Emirados Árabes, Gulf News, adotou o formato berlinense em 2012, o primeiro no Oriente Médio.

Nos últimos anos, o formato atravessou o Atlântico e passou a ser usado na América Latina. O jornal El Comercio, de Lima, um dos mais antigos do continente, mudou para o germânico recentemente. O mesmo ocorreu com La Nación, da Argentina, e os chilenos La Tercera e El Mercurio.

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Um novo Estadão vem aí

A versão impressa do Estadão será renovada a partir do próximo domingo, 17. Com base nas expectativas dos leitores, ouvidos durante os 11 meses do projeto de transformação, o novo impresso terá inovações no conteúdo, com novas seções que priorizam o aprofundamento e o contexto dos fatos. Como resultado das pesquisas, o jornal impresso terá ainda um novo formato, o germânico (berliner). Mais fácil de manusear, ler e carregar, ele se adapta melhor ao dia a dia do leitor e já vem sendo adotado por jornais em vários países. Todas as mudanças têm como alicerce o jornalismo profissional e independente, ativos inegociáveis do jornal fundado há 146 anos.

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