Estado de emergência não detém violência no Timor Leste

Pela primeira vez, as tropas australianas atiraram para o alto para dispersar uma multidão de homens armados que promovia distúrbios

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Por Agencia Estado
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Os bandos de jovens que há dias promovem a violência nas ruas de Díli continuaram os ataques e distúrbios na noite de terça-feira, apesar do estado de emergência decretado pelo presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão. Pela primeira vez, as tropas australianas atiraram para o alto para dispersar uma multidão de homens armados com machados que incendiavam casas, segundo o jornal Sydney Morning Herald. Antes do incidente, os bandos de jovens violentos vagavam pelas ruas, aterrorizando a população, os motoristas e as missões religiosas, como o convento de Dom Bosco, segundo a fonte. A aparente inação das tropas estrangeiras, que não conseguem controlar os grupos armados, sofre críticas cada vez maiores. O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, disse que Gusmão não tem o controle exclusivo sobre as forças de segurança do país, que é compartilhado com o governo. Alkatiri, segundo a rádio australiana ABC, disse que a declaração do presidente, de que teria tomado o controle das forças de segurança, tinha sido mal traduzida. Um novo contingente de soldados neozelandeses chegou ao Timor, com a missão de patrulhar a zona ocidental de Díli, onde foi registrada a maior parte dos atos de violência. Outro avião com tropas da Nova Zelândia deverá chegar nesta quarta-feira, completando o total de 180 militares que Wellington se comprometeu a enviar. O comando é das forças australianas, as mais numerosas, com 1.300 homens. Raízes da violência A onda de violência que desde o final de abril já deixou ao menos 27 mortos no Timor Leste teve como ponto de partida uma revolta liderada por recrutas do exército que reclamavam de maus-tratos e discriminação por parte dos oficias da corporação. As raízes do conflito, no entanto, remetem aos 24 anos de enfrentamentos entre rebeldes e o governo de ocupação indonésio, que só deixou o Timor em 1999. Isso porque os militares revoltados são na sua maioria timorenses da parte oeste do país, os "loromonos", que durante a luta contra a ocupação indonésia defenderam a anexação do território ao país vizinho. Já a cúpula do exército é formada majoritariamente pelos "loroases", ex-guerrilheiros da parte leste da ilha que defenderam a independência. À instabilidade gerada por essa disputa étnica, somam-se fatores como a complicada situação econômica e social do país, devastado pelos anos de guerra civil. Além disso, com a saída das forças de paz das Nações Unidas, no início de 2005, o Timor Leste sofre um vácuo de autoridade que o presidente Xanana Gusmão tenta preencher agora, ao assumir o comando das forças de segurança timorenses. Na terça-feira, dia 30 de maio, o presidente decretou estado de emergência, medida que lhe garante o controle do Exército e da polícia do país.

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