Estado Islâmico e Al-Qaeda lutam por território e influência no Iêmen

Confrontos foram intensificados após fim do ‘califado’ do EI no Iraque e na Síria e dividiram forças tribais iemenitas; conflito pode prejudicar os esforços dos EUA e aliados para afastar os militantes islâmicos do país, uma parte estratégica do mundo

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Por Redação
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CAIRO - Com o fim de seu “califado” no Iraque e na Síria, o Estado Islâmico está travando uma luta mortífera com a Al-Qaeda por território e influência no Iêmen, que está dividindo tribos e aprofundando a instabilidade no país mais pobre do Oriente Médio, dizem líderes tribais e analistas.

Grupo ligado à coalizão liderada pela Arábia Saudita examina explosivos Foto: Lorenzo Tugnoli / The Washington Post

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Confrontos vêm ocorrendo regularmente entre forças tribais iemenitas alinhadas aos dois grupos extremistas. Ao mesmo tempo, o EI e a Al-Qaeda travam uma guerra na internet, publicando vídeos, imagens, e mesmo poemas, em fóruns e chats, na esperança de atrair mais seguidores e simpatizantes.

Nas últimas semanas os combates se intensificaram. O EI enviou suicidas contra posições da Al-Qaeda, matando e ferindo vários de seus combatentes e comandantes. Em retaliação, a Al-Qaeda atacou bases do EI. Então, um grupo filiado à Al-Qaeda fez algo sem precedentes: ofereceu uma recompensa de US$ 20 mil pela captura ou morte do líder local do Estado Islâmico.

“A rivalidade entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda desandou para um sangrento feudo”, disse Elisabeth Kendall, especialista em Iêmen da Universidade Oxford, que tem acompanhado o aumento de tensões.

O conflito entre a afiliada do Estado Islâmico e a Al-Qaeda na Península Arábica é um dos muitos que existem atualmente no país Foto: Lorenzo Tugnoli / The Washington Post

Depois que o autoproclamado califado ruiu, as células do EI continuaram a lutar contra governos e rivais no Oeste da África e no Sudeste Asiático, e sua ideologia continuou inspirando atos de violência.

No Iêmen, a rivalidade entre os dois grupos radicais e seus simpatizantes pode prejudicar os esforços dos EUA e seus aliados para afastar os militantes islâmicos de uma parte estratégica do mundo e ameaça levar o Iêmen a anos de caos, disseram analistas e líderes tribais.

“A luta está sendo mais motivada por disputas territoriais e ambições do que o desejo de atacar o Ocidente”, disseram analistas. “Cada um deles está tentando derrotar o outro para demonstrar que é mais forte”, disse Ahmed Fadhil Abu Suraima, vice-governador da Província de Bayda.

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O conflito entre a afiliada do Estado Islâmico e a Al-Qaeda na Península Arábica, como é conhecido o ramo do grupo no Iêmen, é um dos muitos que existem atualmente no país, uma passagem vital para o transporte de petróleo. O principal conflito envolve os rebeldes houthis do norte e a coalizão internacional que apoia o governo iemenita e é liderada pela Arábia Saudita. 

Os quatro anos de conflito aprofundaram a crise humana, considerada pela ONUuma das mais severas do mundo Foto: Lorenzo Tugnoli / The Washington Post / AP

Os quatro anos de conflito aprofundaram a crise humana, considerada pela ONU uma das mais severas do mundo, levaram o país à fome e forçaram mais de 3 milhões de pessoas a deixar suas casas.

Primavera Árabe

Esse ramo do Estado Islâmico surgiu após o caos político que se seguiu às revoltas da Primavera Árabe no Iêmen, em 2011. Atualmente, o grupo tem centenas de combatentes, trava uma guerra de guerrilha no sul e lançou vários atentados suicidas contra funcionários do governo e soldados. O governo de Donald Trump lançou uma campanha de ataques aéreos contra os dois grupos recentemente.

“Tanto a Al-Qaeda da Península Islâmica quanto o Estado Islâmico têm ganhado vantagens com os espaços não governados no Iêmen para planejar, cometer e inspirar ataques terroristas contra os cidadãos dos EUA e dos países aliados em todo o mundo”, disse o tenente Earl Brown, porta-voz do Comando Central do Pentágono. 

Segundo líderes tribais, os grupos sunitas atraíram combatentes estrangeiros da Arábia Saudita, do Egito, do Paquistão e de outros países e agora alguns dele estão em posições de liderança. / The Washington Post

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