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Estado Islâmico pratica limpeza étnica e sectária no Iraque e na Síria

De acordo com especialistas, intenção do grupo radical é impor o que seus militantes qualificam de ‘ideologia salafista’, que utiliza violência e terrorismo como ferramentas de controle social

Por Guilherme Russo
Atualização:

 As estratégias de terror usadas pelo Estado Islâmico (EI) no território que o grupo sunita domina na Síria e no Iraque, expressas pelas recentes – e bem divulgadas – decapitações de reféns e destruições de relíquias ancestrais, além do massacre da minoria yazidi, são sinais de que os radicais pretendem pôr em prática uma limpeza sectária e étnica em seu “califado”. A intenção é impor o que eles qualificam de “ideologia salafista”.

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“Os fundamentalistas chamam isso de ‘agir como animais selvagens’. Até teorizaram sobre o que é agir como animais selvagens – é uma maneira de impingir o terror nos corações das pessoas”, afirmou ao Estado o historiador Juan Cole, especialista em Oriente Médio que leciona na Universidade de Michigan.

Segundo o analista, essa técnica de terrorismo “é um mecanismo de controle social”, pois evita a resistência à conquista. “Se tiverem medo de você agir como um animal selvagem, não se rebelarão tanto”, disse. “O mais importante é que eles pretendem fazer uma limpeza étnica e sectária, matar ou converter todos que não pensam como eles. Isso inclui sunitas moderados, xiitas e os numerosos grupos religiosos no norte do Iraque.”

Cole explicou que “a pretensão deles é arregimentação social e política simbólica por meio de uma visão muito limitada sobre o que deve ser permitido na sociedade”. “Isso é inspirado em formas ancestrais de radicalismo muçulmano. Eles são iconoclastas. No Velho Testamento, os dez mandamentos incluem uma proibição à idolatria. Os radicais do EI têm basicamente a mesma política que Moisés, acreditam que nenhum ídolo deve ser permitido.”

Militantes do Estado Islâmico (EI) que destruíram quatrosítios arqueológicos assírios entre fevereiro e março deste ano Foto: APPhoto

Analistas afirmam que, além de destruir as relíquias da Antiguidade, os radicais estão vendendo as peças para financiar suas atividades. “O barbarismo desses mercenários parece não ter limites. É lamentável que, em pleno século 21, estejamos assistindo à destruição da herança civilizatória e cultural do povo iraquiano. A religião muçulmana é orientada sob os princípios da paz, da temperança e da tolerância. Os terroristas do EI deturpam de forma grotesca os princípios do Islã”, afirmou o cientista político Hussein Kalout, especialista em Oriente Médio e pesquisador da Universidade Harvard.

De acordo com o analista, “cometendo atos de extrema barbárie, os radicais negligenciam a mensagem real do islamismo para acomodar seus interesses criminosos”.

Outra fonte de financiamento dos militantes do EI, segundo Cole, é o contrabando de petróleo e de gasolina. “Eles têm algumas refinarias sob controle. Levam combustível para a Turquia. As pessoas não fazem perguntas”, disse o historiador, explicando que os radicais praticam preços muito inferiores aos do mercado.

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Kalout afirmou que grupos locais sunitas leais ao regime de Saddam Hussein e clãs tribais sunitas insatisfeitos com a partilha do poder no Iraque também financiam as atividades dos radicais, assim como o apoio externo de países e indivíduos interessados na desestabilização do país. “As acusações recaem sobre algumas monarquias (de predominância sunita) do Golfo – particularmente, Arábia Saudita e Catar. Fontes do governo do ex-premiê iraquiano Nuri al-Maliki (xiita) apontavam o dedo para o serviço de inteligência saudita como o provedor de armas ao EI. A Turquia também faz parte da lista”, disse o pesquisador de Harvard.

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